29 outubro 2008

Não tenho tido tempo para nada!

Até eu voltar, deliciem-se com a obra de Mozart de que desde sempre mais gostei, aquela em que, para Einstein, ele se despiu por completo de qualquer superficialidade: o K. 465.

25 outubro 2008

Encontrado numa gaveta


"Os que detêm a Verdadeira Linguagem, a que permite e exprime o acesso ao Verdadeiro Conhecimento, são por isso aqueles a quem o Poder Verdadeiro confiará a concretização da sua Glória. Ministros do saber humano, perante eles se deverão curvar os seguidores das trevas que os precederam, reconhecendo humildemente a sua ignorância, esforçando-se por entender e seguir a Via. Magnânimos, serenos de sabedoria, mas firmes e inflexíveis no estabelecimento da Verdade, os Enviados da Palavra Nova guiarão assim os que tiverem o espírito imerso na confusão do antigo falso conhecimento, orientarão os indecisos, apoiarão os inseguros, fortalecerão os tíbios e expulsarão os réprobos, para que em breve chegue o dia da Cidade em que reinará a Luz do Pensamento Unificado Até e Para Além do 12º Ano. Pela Palavra Nova, lhes será atribuído o domínio sobre todos os cidadãos e a si próprios se firmarão, pois, como os Eleitos."
Excerto do Tratado Teológico-Político para o século XXI, cap. I, TLEBS (autor anónimo)

O mais mortal dos pecados


Dias antes do 25 de Abril, face a uma vaia com que o receberam no Coliseu dos Recreios aqueles que "viam" n' "A Tourada" um ataque à dita e aos lusos valores, Ary dos Santos respondeu à letra com um "Não tenho culpa de que o público de Lisboa seja estúpido!", que obrigou a polícia a ter que proteger a sua saída da sala.
Quem sai aos seus não degenera. Hoje, são os descendentes espirituais desses que o apuparam quem protesta contra o sketch dos Gato Fedorento sobre o computador do regime, dizendo-se defensores do catolicismo, sem perceberem a denúncia que o texto faz de algo, francamente sinistro, que se quer substituir àquela que o Estado Novo quis, por sua vez, reduzir a "religião da Pátria".
A estupidez é a essência de todos os pecados. E consta que nem Deus pode salvar as almas que nela caem profundamente.

Michel Petrucciani, Brazilian like - live

24 outubro 2008

Nem seria preciso dizer...


... como aquela personagem do Jô Soares, "tem pai que é cego...!". Havia coisas que saltavam à vista, a começar pela postura. E por aquela sanha denunciadora, também presente em casos semelhantes, mais ou menos mediáticos, bem como naqueles, anónimos, que tantos de nós conheceram ou conhecem.
Depois de, além disso, ter visto, dias atrás, pela primeira vez, a fotografia de Haider com a mulher, a notícia (via 31 da Armada) que surgiu em todos os órgãos de comunicação não me apanhou de surpresa.
A sério, só me impressiona a infelicidade que ia naquela cabeça, toda aquela inautenticidade e cobardia. O resto não tem qualquer interesse.

22 outubro 2008

Recomendo a leitura...


... deste post no Fiel Inimigo, bem como os recomendados pelo RoD no comentário ao meu post anterior, em As Minhas Leituras (link já disponível aí ao lado).
(Aviso: este produto pode provocar sessões incómodas de espirros aos espíritos mais sensíveis)

19 outubro 2008

Será assim tão bom ser açoreano?

(desconheço o autor)
Ou antes uma desilusão? Maior abstenção de sempre, descida do Partido Socialista... Para Sócrates, o partido começa com uma vitória. Vinda de quem vem, não se esperaria outra afirmação, até porque o que se prevê para o continente é semelhante.
Portugal torna-se, dia após dia, um país cada vez mais triste, onde alguns tristes procuram ridiculamente o poder ou manter-se nele.

Exemplar!

Um excerto...


... da crónica de Ricardo Araújo Pereira (de quem, como já tenho dito, embora sendo, sem dúvida, o melhor dos Gatos, não gosto particularmente) na Visão desta semana:
"(...) A partir de agora (...) o Governo disponibiliza aos bancos dinheiro dos nossos impostos. Significa isto que eu, como contribuinte, sou fiador do banco que é meu credor. Financio o banco que me financia a mim. Não sei se o leitor está a conseguir captar toda a profundidade deste raciocínio. Eu consegui, mas tive de pensar muito e fiquei com dor de cabeça. Ou muito me engano ou o que se passa é o seguinte: os contribuintes emprestam o seu dinheiro aos bancos sem cobrar nada, e depois os bancos emprestam o mesmo dinheiro aos contribuintes, mas cobrando simpáticas taxas de juro. A troco de apenas algum dinheiro, os bancos emprestam-nos o nosso próprio dinheiro para que possamos fazer com ele o que quisermos. A nobreza desta atitude dos bancos deve ser sublinhada.
Tendo em conta que, depois de anos de lucros colossais, a banca precisa de ajuda, há quem receie que os bancos voltem a não saber gerir este dinheiro garantido pelo Estado. Mas eu sei que as instituições bancárias aprenderam a sua lição e vão aplicar ajuizadamente a ajuda do Governo. Tenho a certeza de que os bancos vão usar pelo menos parte desse dinheiro para devolver aos clientes aqueles arredondamentos que foram fazendo indevidamente no crédito à habitação, por exemplo, e que ascendem a vários milhares de euros no final de cada empréstimo. Essa será, sem dúvida nenhuma, uma prioridade. Vivemos tempos difíceis, e julgo que todos, sem excepção, temos de dar as mãos. Por mim, dou as mãos aos bancos. Assim que eles tirarem as mãos do meu bolso, dou mesmo.

18 outubro 2008

A prova da infinita misericórdia de Deus


Pois, se assim não fosse, como poderia suportar que na Sua Criação houvesse alguém que, num arroubo de supino parolismo pretensioso, baptizasse o que quer que fosse como Clube dos Pensadores ou aceitasse sequer participar em algo de tal espírito?!

17 outubro 2008

Fábula breve para estudiosos de Lógica


Um amigo pergunta ao outro:
- Se eu e a tua mulher fizéssemos amor, ainda ficávamos amigos...?
- Não!
- Quer dizer que... ficávamos inimigos...?
- Não...!
- Então... ficávamos o quê?
- Olha... ficávamos quites!

13 outubro 2008

Esquerda dixit

Quadro de Chirico

Gostei muito de ouvir hoje Miguel Portas criticar as medidas europeias com vista a enfrentar a crise financeira, dizendo que a Europa não fez o que deveria: baixar as taxas de juro, assim tirando do sufoco o cidadão comum e as pequenas e médias empresas, ao contrário do que tinham feito muitos países, "nomeadamente os Estados Unidos da América".
Lucidez é que é preciso!

12 outubro 2008

A estratégia da aranha

Diz Manuela Ferreira Leita que as medidas de apoio às PME's tomadas pelo governo visam, mais do que tudo, consolidar e perpetuar o poder dos socialistas através do reforço e estreitamento da dependência dessas empresas em relação a ele.
O que Manuela Ferreira Leite quis claramente afirmar foi que desde há três anos, no país, uma teia sinistra de diferentes interesses é tecida solidamente por mão de ferro com luva de veludo. Democraticamente e a bem da Nação, perdão, do povo.
Alguém duvida?

10 outubro 2008

Do ridículo

Henri Rousseau, Festa de Casamento
Mais ridícula do que obsessão dos (destes) homossexuais pelo casamento, só a recusa dos (destes) deputados em admiti-lo.

09 outubro 2008

Da opinião pública


Entre as várias superstições verbais de que se alimenta a pseudo-inteligência da nossa época, a mais vulgarmente usada é a da "opinião pública". E, como acontece com todas as superstições que conseguem deveras enraizar-se mas que não conseguem tornar-se nunca lúcidas, este critério instintivo respeitador da opinião pública em palavras (porque sente que há por detrás da frase uma realidade), mas pouco respeitador dela em actos (porque não sabe definitivamente que realidade é essa), é ao mesmo tempo o esteio e o vício das sociedades modernas. (...)
Todos nós sentimos, qualquer que seja a nossa política que, em resultado, toda a política, para que não seja mais do que um oportunismo de egoístas, tem de se conformar com a "opinião pública", com a pressão insistente de uma opinião geral. Todos temos a intuição, natural ou adquirida, de que uma nação vale o que vale a sua "opinião pública"; porque, como essência de uma poliítica estável e fecunda, consiste na sua conformação com a opinião pública, pressupõe-se, na nação em que tal política é possível, um estado da opinião pública que persistentemente compila os políticos, os governantes, sob pena de deixarem de o ser, a conformar-se com as suas imposições. (...)
O que precisamos, portanto, de determinar para que devidamente nos orientemos no assunto, é, primeiro, que espécie de cousa é essa "opinião pública", com a qual uma política fecunda tem que se conformar, se essa "opinião pública" na verdade coincide com a "opinião das maiorias"; se essa "opinião pública" (...) pode ser manifestada pelo sufrágio; e, segundo, em que princípio, em que regras, assenta, por que processos se produz, essa "conformação" da acção dos governantes com a "opinião pública", qual a maneira por que na verdade a interpretam ou servem, e não apenas dizem servi-la e interpretá-la.
Fernando Pessoa, A Opinião Pública, Editorial Nova Ática

Da moralidade e da economia&finanças


Hoje, no Diário de Notícias, Ferreira Fernandes escreveu:
A seguradora AIG já era famosa quando andava sob o pescoço de Cristiano Ronaldo, na camisola do Manchester. Mas, famosa mesmo, mesmo, foi quando os americanos passaram a andar com a AIG ao pescoço. Esganados. Ela falira e não fosse sugarem-se os dinheiros públicos (85 mil milhões de dólares) a empresa fechava. Não fechar é bom e o que é bom festeja-se. Alguns executivos da AIG foram para um luxuoso hotel de Monarch Beach, Califórnia, com factura final de 300.000 euros, entre diárias, almoços e pedicura. Tudo pago pela empresa que, já vimos, era paga pelos contribuintes. Evidentemente, os invejosos do costume foram aos arames - na Câmara dos Representantes, alguns dos eleitos que ainda há pouco tinham votado o resgate da AIG indignaram-se com o abuso. É verdade que aqueles executivos, em superficial análise, parecem não merecer prémio algum, quanto mais pedicura. Como se fosse fácil lidar com a consciência. Esta é aquela voz interior que nos diz que alguém está olhando. Sem poderem usufruir dos luxos com merecida tranquilidade, aqueles executivos estavam, no entanto, a dar-nos uma esperança: a crise não é geral.
No próximo fim-de-semana voltarei a este assunto.

Enquanto não volto... Thelonious Monk e Alphonse Mouzon



05 outubro 2008

Lutas


Mário Nogueira tem razão no que diz, mas os professores, ao aceitarem o que lhes tem sido imposto gradualmente, tanto do ponto de vista da sua carreira e condições de trabalho como do ponto de vista pedagógico, com a submissão e a passividade que até hoje demonstraram, não poderiam esperar - e, portanto, merecer - outra coisa. A tirania existe apenas quando existem tiranizáveis - e, afinal, até estamos em "democracia", não é?
Quanto aos professores que verdadeiramente têm lutado contra o abastardamento e o abandalhamento gerais do ensino no país, para esses a sua maior luta diária é, presentemente e antes do mais, a de conseguirem não perder o respeito por si próprios.

Citação...


"Portugal é um país estranho (...) A economia cresce pouco, mas estamos seguros. O crédito malparado sobe, mas não há motivo para preocupações. Os portugueses estão a viver pior, mas não há falências. Este oásis é, na realidade, o nosso deserto.

Luís Marques, no Expresso (via PÚBLICO de hoje)
...e chapelada, como diz o RoD.

01 outubro 2008

Disso da apagada e vil tristeza

Quadro de Chirico

Diz-me um professor do ensino secundário:
Começo a aula a falar do Fernando Pessoa e pergunto aos alunos se já ouviram falar dele. A maioria diz que sim. Pergunto em seguida se já leram qualquer coisa que ele tivesse escrito. A maioria diz agora que sim, na aula, mas que já não se lembra do que foi. Pergunto depois se gostaram. A maioria dos que guardam alguma vaga recordação diz que não percebeu lá muito bem, outros baixam a cabeça e fazem aaeh...!, os restantes articulam um sim hesitante.
Digo-lhes que Fernando Pessoa foi um dos grandes poetas mundiais do século XX. Manifesta-se algum entusiasmo e exclamações do tipo "Claro, tinha que ser! Era português!", seguidas de arremessos mútuos de papelinhos e de frases jocoso-insultuosas de boa camaradagem. Informo-os a seguir de que morreu quase ignorado, de que tinha toda a sua vida trabalhado num escritório e ouve-se expressões de incredulidade. O pouco entusiasmo esmorece e faz-se comentários às injustiças sociais. "Não ganhou o prémio Nobel?!", "Não." - e o já quase inexistente interesse apaga-se um pouco mais.
Digo-lhe que vamos ler um poema de Fernando Pessoa. As expressões e suspiros de enfado sobem já a um nível superior aos das cinzas do entusiasmo: afinal é mesmo uma aula, não é um espectáculo...! À leitura inexpressiva segue-se a perplexidade, ninguém percebe nada, ninguém sabe o que significa grande parte das palavras, alguns, muito instados, avançam com interpretações quase sempre "ao lado", ouve-se os Oh stôr, pra que é que ele escreveu isto? Pra que é que isto contribui para a minha felicidade? Só nos dão pra ler coisas destas...!
Diz-me ainda o professor: Eu só lhes dei "O menino de sua mãe", para os reiniciar na leitura! Afinal temos aí a guerra...!.
O que ele me diz traz-me à memória o que li num jornal no ano seguinte àquele em que Saramago recebeu o prémio Nobel. No encontro do "nosso laureado" com alunos de uma escola alentejana do interior, pouco tempo após a apresentação e "ter visto o homem" já o pessoal passava o tempo de olhos baixos a enviar sms's e a bufar para se ir embora, que aquilo era uma "seca". Pois se havia mostrado a "medalha", pronto, o que é que havia mais que valesse a pena?!
E, a propósito de medalhas, outras coisas, mais recentes: o alarido acerca das que os atletas olímpicos "deveriam ter trazido, que para isso é que os contribuintes lhes pagaram", sem ninguém querer saber de coisas tão elementares como a relação entre a dimensão da população de um país, o número de atletas que pode apresentar, o consequente aumento da possibilidade de ocorrência de casos de sobredotados para a prática desportiva, os recursos efectivamente envolvidos, etc., etc.. Além da comparação com países com dimensão semelhante à nossa e com grandes investimentos nessa área, como seja uma parte dos países europeus. Esquecendo, no meio disto tudo o espírito olímpico, que nem sequer entrou uma única vez em linha de conta.
Recordo-me também, desta vez a propósito desse espírito, das palavras de anteontem, num telejornal, de um jogador do Sporting, depois de um jogo em que, ao que parece, não terão jogado grande coisa na primeira parte mas que acabaram por ganhar: na Suíça, nós estávamos a ganhar-lhes por 3-0 e a massa associativa deles fazia uma festa a apoiá-los, nós aqui... bem, temos que nos habituar... Isto depois de a equipa ter já um excelente começo de época, ganhando troféus e ainda ter disputado poucos jogos.
A mediocridade é mesmo assim: grande por delegação, exigente com quem a alimenta, cruel para quem não ajuda a disfarçá-la, mesquinha e ingrata sempre. Vaidosa, é por isso ignorante e labrega; preguiçosa, passa o tempo a reinvindicar justiça e trabalho alheio; invejosa, está sempre à espreita do que o vizinho possa ter, para lho cobiçar. Quando se atreve a ser generosa, rapidamente se amedronta e se refugia na "sabedoria" da descrença. Não é uma questão de nível de educação, mas de estado de espírito de um povo, desde as bases aos dirigentes.
Byron definiu-o assim no início do século XIX, quando viveu algum tempo na sua querida e inspiradora Sintra: os portugueses são um povo de escravos.
(Nota: a propósito de José Saramago...)