27 fevereiro 2010

Agora, a sério...!


Já não vou demorar muito a emergir de alguma letargia, provocada pelos problemas de saúde, entretanto mais ou menos resolvidos (raio da coluna!).
Entretanto, fiquem com esta.

23 fevereiro 2010

A quem interesse


Já aqui deixei uma referência ao blog Tetraplégicos, que descobri há tempos, por acaso, e que coloquei desde logo nos favoritos, dada o excelente trabalho que nele tem sido feito. Chamo hoje a atenção para um post de enorme importância para quem necessite do que nele é noticiado.
O Eduardo continua de parabéns.

18 fevereiro 2010

Toca a acordar!


É que, convençam-se, há mesmo candidatos a papão que existem fora dos sonhos e das histórias que nos dão sono, a crianças e adultos... (leiam ainda alguns dos comentários, que acrescentam mais episódios).
NOTA: Desconheço a razão pela qual o serviço de moderação de comentários decide, de vez em quando, entrar em autogestão, fazendo "vista grossa" a alguns deles. Aconteceu alguns posts atrás, como eu próprio assinalei na caixa correspondente e aconteceu também com um segundo comentário ao post anterior, que, por mais que eu tente, não "cola". Estou a tentar perceber o que se passa.

16 fevereiro 2010

Do carácter da UE


Quando alguém como Vítor Constâncio conta com apoios suficientes dentro da União Europeia para conseguir alcançar o lugar de vice-presidente do BCE, será preciso dizer mais sobre a Europa que se constitui na sombra e no silêncio?

13 fevereiro 2010

Em falta


Deixo-vos hoje este belo poema de Nicolau Saião (entretanto já publicado no Fundação Velocipédica e que ele mesmo, à data, me enviou também), embora sem a ilustração de Pedro Sevylla de Juana que o acompanha originalmente, a qual, com pena minha, não consigo transpor para o post. Em sua substituição, deixo esta fotografia, recolhida aqui.

AS COISAS

As coisas multiplicam-se
muito mais que as pessoas. Só elas
possuem o segredo de tranquilamente jazer
entre as ervas, as águas, as ruínas
ausentes e presentes. A sua pele
é mais fina que a casca dos minutos
e contudo, sob o lume e o vento
sob a terra em que os passos já não soam
ou no deserto violento das palavras
as coisas repousam
ou, subitamente iluminadas
gritam e falam-nos com movimentos graves
adejando como estranhos pássaros nocturnos
ou como trémulos animais interditos.

As coisas
sofrem
elas sofrem como se existissem noutra esfera
próxima de nós
como uma Lua oculta, como um peixe fantasma
como uma flor solitária numa casa abandonada
como um gato que no sono se agita pleno de medo
As coisas
minúsculas, gigantescas, iguaizinhas a nós
ensanguentadas pelo nosso terror e a nossa cólera
sob as nossas mãos
entre os nossos cabelos
repousando junto a nós quando dormimos
calmas como o ruído dum comboio numa cidade matutina
As coisas
respirando devagarinho nas nossas memórias
andando junto às nossas recordações como se fossem
um elefante, um rato, um cão fiel
feitas de barro, as coisas
de madeira ou de cera, de vidro ou de cimento
feitas de cristal e de platina, de celulóide
do fresco celofane, de aço e de papel
pobres coisas num rés-do-cão amontoadas
esquecidas como um trapo manchado
livres e belas
nosso testamento, papiro para milénios a vir
As coisas
sempre atentas, sempre dormindo esperando o despertar
o silencio luminoso
As coisas

nossas irmãs de mundo, nossas filhas, nosso sinal perfeito
neste universo que é o nosso resumido encontro
com a sua

eternidade acontecida.
in Os Objectos Inquietantes

12 fevereiro 2010

O trambolho


Ontem à noite, no programa Corredor do Poder, transmitido quinzenalmente pela RTP1, Nuno Melo, do CDS, demonstrou - a meu ver, irrefutavelmente - o teorema seguinte:
"Henrique Granadeiro declarou publicamente que avisara o primeiro-ministro de que iria apresentar à CMVM a candidatura da PT à compra da parte da empresa espanhola Prisa na TVI;
A PT entregou à CMVM o documento oficial comprovativo dessa sua mesma intenção, em 22 de Junho de 2009;
No dia seguinte, 23 de Junho, porém, o primeiro-ministro afirmou na Assembleia que desconhecia, por completo, essa intenção;
Conclui-se, assim, que o primeiro-ministro mentiu à Assembleia da República."
Quod est demonstratum.
Não interessa, portanto, se foi num jantar que Henrique Granadeiro lho disse, se foi ao lanche, ao jantar ou até ao pequeno-almoço. O primeiro-ministro terá mentido com quantos dentes Deus ou a Natureza lhe deu, à Assembleia da República.
E um primeiro-ministro que mente à Assembleia da República não existe como primeiro-ministro. É um trambolho político.
A pergunta seguinte é: e o que faz um trambolho como primeiro-ministro?

11 fevereiro 2010

07 fevereiro 2010

Maquiavel...

Sebastián de Covarrubias, A Inveja (século XVI)


... deve estar a roer-se, por não poder ter dado uma entrevista como esta (via Fiel Inimigo)...

02 fevereiro 2010

Do nojo (2)


Diz o velho socialista Henrique Neto (texto recolhido aqui)

Sou amigo do Mário Crespo há muitos anos e tenho-o na conta de um homem independente e sério, o que não significa que partilhe muitas opiniões com ele, ou que entenda que ele é um modelo de jornalismo. Também não acho isso de mim próprio, ou de ninguém em particular.
A liberdade é a coexistência de modelos e não a imposição de um em concreto.
Ao longo de mais de 30 anos de carreira jornalística - e nesse particular sou mais antigo do que o Mário - não me lembro de um cronista ser dispensado depois de a crónica estar pronta a ir para a oficina. E o que isto significa é que os limites da liberdade estão mais apertados do que nunca.
Tenho o director do JN, José Leite Pereira, na conta de um bom profissional e de um homem independente e sério. É jornalista há muitos mais anos do que eu, tem uma experiência considerável. Não creio que ele se impressione com uma crítica a Sócrates, como não creio que ele exigisse gratuitamente a Mário Crespo uma confirmação independente de fontes. Provavelmente, não o faz (nenhum de nós o faz) quando, em vez de Sócrates, está um outro cidadão qualquer em causa.
Porém, no caso do primeiro-ministro as palavras são relevantes, já que proferidas por quem tem a responsabilidade do poder executivo neste país. É certo que a conversa pode ser considerada privada, mas é igualmente certo que o bom-nome de Mário Crespo foi atacado de forma pública, ou jamais seria ouvida por circunstantes que nada tinham a ver com a conversa.
O que se passa, então?
Posso tentar avançar uma explicação: Mário Crespo tornou-se incómodo para Sócrates (e até para Cavaco, que denunciou em algumas crónicas), e a sua incomodidade estava a deixar o próprio José Leite Pereira numa situação difícil. Por isso o director do JN recorreu a um excessivo escrúpulo jornalístico para resolver a questão. E decidiu não publicar a crónica.
Não posso condenar José Leite Pereira, não é do meu timbre julgar os outros. Apenas posso dizer que este é o panorama da nossa Comunicação Social: Grupos que dependem do poder do Governo, patrões que pressionam directores e editores até à exaustão, cronistas afastados por serem incómodos e uma multidão de lambe-botas que, prudentemente se cala ou arranja eufemismos para tratar a questão.
Tenho em comum com Mário Crespo o facto de trabalharmos num grupo onde nada disto acontece (felizmente não será o único). Talvez não estejamos inteiramente preparados para o mundo 'lá fora', onde as palavras têm de ser medidas, onde não se pode escrever preto no branco, como aqui faço, que Sócrates é o pior primeiro-ministro no que respeita à Comunicação Social; o único que telefona e berra com jornalistas, directores, com quem pode. O único em que nestes mais de 30 anos que levo de vida jornalística, se preocupa doentiamente com o que dizem dele, em vez de mostrar grandeza e fair-play com o que de errado e certo propaga a Comunicação Social.
Lamento dizê-lo, tanto mais que é nosso primeiro-ministro e seguramente tem trabalhado muito e o melhor que sabe.
Mas é a verdade, e num momento destes a verdade não se pode esconder.

01 fevereiro 2010

Do nojo (1)


Este texto de Mário Crespo deveria ter sido publicado hoje, no JN. Não o foi, pelos motivos que aqui se pode ler. Trinta e poucos anos depois, Portugal resvala, de novo, para a iniquidade dos medíocres e para abjeccção de carácter. O abismo não terá fim?!

O Fim da Linha

Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento.
O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa.
Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal.
Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o.
Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos.
Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados.
Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre.
Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009.
O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu.
O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”.
O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”.
Foi-se o “problema” que era o Director do Público.
Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu.
Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.

Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicado hoje (1/2/2010) na imprensa.

O comentário possível


Dias atrás, Ricardo Salgado, presidente do BES, chamava, apreensivamente, a atenção de todos para o facto da tributação sobre bónus e rendimentos variáveis de administradores e gestores poder fazer com que “gente muito valiosa” abandone Portugal para trabalhar noutro país". Ou seja, que somente os administradores gestores medíocres fiquem por cá, com as previsíveis consequências presentes e futuras para este nosso amado torrão natal.
Delicioso!