Escher, Côncavo
A trabalhar (raisparta!), ouço a SICNotícias e levanto os olhos quando anunciam uma peça sobre o sistema de avaliação dos professores na Bélgica, que desconheço completamente. Parece-me completamente adequado àquilo que se pretende: em primeiro lugar, ela incide sobre a escola no seu conjunto e, só em casos excepcionais, sobre o professor, a pedido do director, em função de uma diferença de nível clara observada entre o nível da média de resultados obtidos pela escola numa determinada disciplina e a das turmas que lhe foram distribuídas. A remuneração do docente não é afectada pelo resultado.
Recordo o que afirmou noutro dia um senhor da empresa Jerónimo Martins (ouvi-o de raspão, mas pareceu-me que foi qualquer coisa deste género): o tipo de avaliação determinada para os professores é feito na sua empresa há muitos anos e nada há nela de extraordinário. Como comentário apenas se poderá relembrar que as pessoas consideradas - e auto-consideradas - importantes deste país continuam a ser os mestres-de-obras, alguns dos quais já sabem ler.
Finalmente (tenho que voltar ao trabalho!), verifico que, nas escolas belgas, os alunos usam, desde a infância, computadores da Apple MacIntosh, a empresa que melhores programas tem ao nível da educação. Aqui ao lado, em Espanha, o Estado também fez um contrato com a mesma empresa há algum tempo, em Inglaterra é o que se vê e pela Europa fora... Em Portugal, ensina-se com recurso a programas tipo Office e conheço gente, recém-saída da Universidade, que nem sequer sabia da existência de tal marca antes de eu lhe falar dela. O que acaba por ser natural, num país onde a classe política se especializou mais no uso do fax.
Este post foi possível com produtos do Bill Gates.
4 comentários:
Joaquim
Confesso que sei pouco do sistema de avaliação dos professores, logo do que há contra e a favor. Ora eu não sou professora, mas tenho interesses porque tenho os meus sobrinhos na escola (e serei tratada por médicos e gestores e engenheiros formados por estas escolas).
Não me parece discutível que tenha que haver avaliação dos professores, mas não sei os critérios desta ministra. Quer-me parecer que alguns são contra a avaliação pura e simples e isso não é simplesmente argumento.
Eu lembro-me de irritantes programas FOCO na minha Faculdade onde os professores simplesmente iam marcar presença, bater nos computadores e encostar a barriga ao bar da Faculdade enquanto conversavam com a "colega" e comiam uma torrada e bebericavam um galão, falando com a boquinha torta de afectadas, não se apercebo dos encontrões ocasionais de desprezo que levavam dos alunos da Faculdade. O que é que se aprendia nessas porcarias? Perto de nada! Eu, que me cruzei com antigos professores, confirmei que a esmagadora maioria deles era (na melhor das hipóteses) tão burra como eu tinha entendido na escolinha.
Esses estão agora no topo da carreira sem fazer um boi e sem saber um boi. Claro que tive bons professores, mas são uma clara minoria e ainda hoje me lembro deles.
O que nenhum deles fez foi o que estás agora a fazer: uma pós-graduação, digo eu que na área que ensinas. Isso é que não é avaliado! Não há incentivos para o fazer! Dizem os ingleses "those who can't, teach"... mas não há um esforço por os pôr a aprender! Só para aprenderem bazófias pedagógicas.
Um professor de Biologia pode saber que é pedagógico avaliar um aluno de acordo com as indicações do filósofo A e do pedagogo B, mas se não souber os detalhes da mitose e da meiose não pode ensinar Biologia. E porquê o exemplo da Biologia? Porque o que eu aprendi no liceu, há muito tempo, já nem sequer é verdade!
Por outro lado, avaliar segundo os resultados dos alunos não está certo! Porque os alunos não são todos iguais e há casos de alunos que simplesmente são burros que nem cepos e não querem saber! Mas aferir da justeza de uma avaliação contínua através de testes nacionais, isso parece-me mais que justo.
Abobrinha:
Obrigado pela visita. Eu, com muita pena minha, nem para ser sexualmente consultado tenho tido tempo (para quem, ao ler isto, não percebeu, visite o consultório sexual no blog da Abobrinha).
Avaliar os professores através dos resultados obtidos em exames nacionais levaria, a meu ver, ao mesmo problema: o da disparidade de alunos e dos meios sócio-culturais das escolas. Parece-me que o sistema belga, de qual tive conhecimento há bocado, é correcto por conciliar esses dois parâmetros e porque põe em relevo a própria exigência ao nível do grupo, criando a necessidade de funcionar em equipa e criando metas comuns dentro da escola no seu conjunto.
Mas o problema é complexo, envolve outros factores, mais importantes do que estes. Não tenho agora tempo para falar deles de maneira a não gerar equívocos. De qualquer maneira, segundo me parece, a percentagem de professores que recusam qualquer tipo de avaliação é diminuta. Quase todos os que conheço concordam com ela, embora recusem os moldes absurdos que o Ministério da Educação pretende aplicar. A discussão seguinte é a de saber quais os parâmetros "justos" e aí é que entram os diferentes esquemas mafiosos existentes, incluindo aqueles que a pretendem muito superficial, por medo de se revelar a clara incompetência dos "sócios" - e, sem sócios, não há organizações. Dou-te razão quanto ao que dizes de uma boa parte dos professores, que não vão além da (muitas vezes incompleta e má) formação que receberam nas universidades, ele própria em grande parte perdida no esquecimento. Alguém que está no mundo dessa maneira não pode ser bom professor, porque nem sequer é boa pessoa. Só quem percebe que se vive pelo que se aprende pode pretender incutir esse espírito aos que ensina.
Não vou dizer qual a universidade onde me licenciei nem quando o fiz. Mas sinto-me espantado quando ouço tanta informação que a licenciatura continha (e que eu penso ser indispensável para uma visão de conjunto da área) ser repetida pelos professores da pós-graduação (de outra universidade,)e aceite como novidade pelos meus colegas! O que se passa ali, passa-se também no Ensino Secundário, o que remete tudo isto para o que se tem passado ao nível dos programas desde há muitos anos. É esse o problema principal, que deixo para a próxima.
Beijinhos
Joaquim
Expliquei-me mal: as provas finais dos alunos não seriam para avaliar os professores. A discrepância entre as notas finais de avaliação contínua e as do exame final (em que todos os alunos de todo o país seriam avaliados pelos mesmos critérios) poderiam indicar que alguns professores estavam a fazer batota.
Acho que isto começou a correr mal quando o Ministério da Educação deixou de ter o ensino superior e este passou a ter um ministério próprio (junto com a Ciência). Se até aí se educava para se entrar no superior (outro erro, porque faltaram os cursos técnicos e o ensino técnico-profissional), depois deixou de se saber para o que serviria a educação. E ainda hoje não se sabe.
Tenho dúvidas sobre as motivações de muitos professores e acredito piamente que muitos queiram parar simplesmente com a avaliação e viver só à sombra de progressões automáticas e do mérito de serem licenciados.
Mais sintomático que 2/3 dos professores se ter alegadamente manifestado é que a população não esteja a favor dos professores. Paga o justo pelo pecador, mas muitos dos não-professores não estão do lado dos professores, em parte por acharem que já tiveram benesses a mais. E disto ninguém fala.
Toda a gente fala de professores que lhes marcaram a vida e não sei quê. Eu não tive nada disso. Quando muito 2 ou 3 professoras excelentes (graças a Deus uma delas foi a da escola primária) e meia dúzia muito boas (felizmente uma delas de Matemática)... para tantos anos a estudar... é muito pouco! Agora o número de professores mediocres que tive e o de francamente maus... bem, aí já a coisa pia fino!
Toda a gente reage contra a ideia de ser avaliado. é assim em todas as empresas onde a avaliação tem sido introduzida. Se os trabalhadores das inúmeras empresas que praticam avaliação pudessem manifestar-se como os professores tê-lo-iam provavelmente feito.
Mas o facto é que a avaliação permite uma coisa muito importante e, no fundo, essa parece ser a sua maior vantagem: faz desaparecer aquele 5% de pessoas que não fazem nada de util, só dão mau nome às organizações e dão cabo dos nervos aos profissionais sérios.
A reacção dos professores é a reacção humana, expectável, dado que são confrontados com uma situação em que parece nada terem a ganhar. Aqui a imensa falta de habilidade política da ministra. Há quem diga que os professores já são tão priveligiados que não havia espaço para nenhuma "cenoura", mas duvido.
O sistema belga parece-me excelente: simples e coloca as escolas em competição. Mas não deve ser nada simpático para os professores: o director da escola é que irá fazer a escolha dos melhores; a avaliação não tem influencia no ordenado do professor porque tem no emprego... isto é, se o professor não for suficentemente bom, rua!
Eu também vi a reportagem e faltou certamente dizer muita coisa. A ideia base pareceu-me boa, por as escolas em competição é certamente a melhor forma de dar eficiencia ao ensino; mas os processos de competição exigem muito das pessoas, não sei se os professores cá não prefeririam o sistema de avaliação da ministra...
Gostei muito de ler o comentário da abobrinha eheh.. vou voltar a ver o blogue dela, da ultima vez que por lá passei ela estava numa muito de "sexo e cidade" e para isso eu não tenho pachorra... até porque já percebi que tens pedal para mais!
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