30 setembro 2007

E haverá...


... muuuito mais do que isto a dizer! (via Range-o-Dente).

Só mais...


... esta e páro por hoje, que estou com trabalho até aqui!

Reencaminhando


Recebi isto há pouco, por e-mail, sem indicação de autor. Mas subscrevo e reencaminho.

Travar para pensar
Há uns meses optei por ir de Copenhaga a Estocolmo de comboio. Comprado o bilhete, dei comigo num comboio que só se diferenciava dos nossos Alfa por ser menos luxuoso e dotado de menos serviços de apoio aos passageiros.
A viagem, através de florestas geladas e planícies brancas a perder de vista, demorou cerca de cinco horas.
Não fora ser crítico do projecto TGV e conhecer a realidade económica e social desses países, daria comigo a pensar que os nórdicos, emblemas únicos dos superavites orçamentais, seriam mesmo uns tontos. Se não os conhecesse bem perguntaria onde gastam eles os abundantes recursos resultantes da substantiva criação de riqueza . A resposta está na excelência das suas escolas, na qualidade do seu Ensino Superior, nos seus museus e escolas de arte, nas creches e jardins-de-infância em cada esquina, nas políticas pró-activas de apoio à terceira idade. Percebe-se bem porque não construíram estádios de futebol desnecessários, porque não constroem aeroportos em cima de pântanos nem optam por ter comboios supersónicos que só agradam a meia dúzia de multinacionais.
O TGV é um transporte adaptado a países de dimensão continental, extensos, onde o comboio rápido é, numa perspectiva de tempo de viagem/custo por passageiro, competitivo com o transporte aéreo.
É por isso, para além da já referida pressão de certos grupos que fornecem essas tecnologias, que existe TGV em França ou Espanha (com pequenas extensões a países vizinhos). É por razões de sensatez que não o encontramos na Noruega, na Suécia, na Holanda e em muitos outros países ricos. Tirar 20 ou 30 minutos ao Lisboa-Porto à custa de um investimento de cercade 7,5 mil milhões de euros não terá qualquer repercussão na economia do País. Para além de que, dado hoje ser um projecto praticamente não financiado pela União Europeia, ser um presente envenenado para várias gerações de portugueses que, com mais ou menos engenharia financeira, o vão ter de pagar.
Com 7,5 mil milhões de euros pode construir-se mil escolas Básicas e Secundárias de primeiríssimo mundo que substituam as mais de cinco mil obsoletas e subdimensionadas (a 2,5 milhões de euros cada uma), mais mil creches inexistentes (a 1 milhão de euros cada uma), mais mil centros de dia para os nossos idosos (a 1 milhão de euros cada um). Ainda sobrariam cerca de 3,5 mil milhões de euros para aplicar em muitas outras carências, como a urgente reabilitação de toda a degradada rede viária secundária.
CABE ao Governo REFLECTIR.
CABE à Oposição CONTRAPOR.
CABE AOS CIDADÃOS MANIFESTAREM-SE!!!
CABE À TUA CONSCIÊNCIA REENCAMINHAR OU DEIXAR FICAR.

Mário Soares...


... considera o que aconteceu no PSD como uma desgraça para o país. Imagine-se o que ele pensará de Hugo Chávez. Pchhh...!!

O Alberto João é que os topa!


Na escola,
na política...

Egrégios avós


No perfil biográfico de Luís Filipe Menezes feito pela SICNotícias, refere-se o facto de ele ter raptado a sua mulher de um colégio interno, onde os pais da mesma a tinham colocado para contrariarem o namoro.
Portugal tem agora um futuro primeiro-ministro de fibra, possuidor das virtudes maiores de que um português se pode orgulhar, desde Dinis e Pedro I! Qual é o que de entre nós, homem ou mulher, depois de saber isto, é capaz sequer de pensar em votar no engenheiro?!

29 setembro 2007

Aaai!...


... Agora é que eu me meneio
é que eu me meneio
é que eu me meneio!
Depois da eleição do Menezes
eu vivo sem arreceio!


(repete)

28 setembro 2007

Sublinhado meu


“Recupere a ilusão”, dizia um cartaz político que vi em Espanha durante as férias. Muitos políticos, noutros sítios como aqui, gostam de semear ilusões. Mas a realidade é a maior inimiga da ilusão. Em Julho, dias depois de o Ministério da Educação ter anunciado a melhoria das notas de exames de Matemática no 12º ano, eram divulgados os resultados catastróficos – dois em cada três alunos foram reprovados – no exame de Matemática do 9º ano, precisamente no nível de ensino para o qual o governo tinha um plano especial. Era preciso fazer mais alguma coisa. E, pasme-se, o que a ministra fez foi pedir aos autores do anterior currículo, especialistas na experimentação pedagógica e na desvalorização do saber, para o reformular. Não seria mais sensato pedir a outras pessoas? Não estaremos a ser iludidos?
Carlos Fiolhais
(recolhido no blog De Rerum Natura, via comentário da Abobrinha a um post de Ludwig Kripphal, no Que Treta! )

Superiores interesses

Uma criança de 4 anos caiu de uma varanda, em Belas.
Ela e uma outra irmã, com 2 anos, passam o dia sozinhas em casa, enquanto a mãe trabalha.
Entrevistada para um canal de televisão, uma vizinha diz que a mãe "ou trabalha e lhes dá de comer ou fica em casa com elas e deixa-as morrer à fome".
Foi determinado que as crianças que as crianças serão retiradas à progenitora e entregues às competentes instituições públicas.
Tal como no caso da que irá ser retirada aos pais adoptivos, tudo em nome dos superiores interesses das crianças, é claro.
Ah! É verdade! Já me estava a esquecer! E de uma maior justiça social.

27 setembro 2007

Marcel Marceau...


... foi sepultado hoje.

26 setembro 2007

Dentadas mediadas


De boas contas (via Range-o-Dente);

A histeria do ódio

Há uma coisa que, para mim, não ficou clara, naquela "tourada" que pudemos "ouver" na Universidade de Columbia, com o presidente do Irão.
As declarações que este fez sobre a homossexualidade foram de morrer, de um misto de riso e de desgosto. E não é por o homem se dizer servo de Deus: o ateu Cunhal, numa das últimas entrevistas que deu à RTP, respondeu à pergunta: "O que pensa da homossexualidade?", com um:"É uma tristeza!", que provocou idêntica reacção, juntamente com um arrepio provocado pela ideia do que poderia ter sucedido a muita gente, que não só homossexuais, se o PCP houvesse chegado ao poder.
A minha estranheza refere-se ao facto de o reitor da Universidade iniciar a conferência com um ataque cerrado ao convidado, utilizando os piores (merecidos) termos que se lhe podiam aplicar - a que o mesmo respondeu à letra, como seria de esperar (e o ele é, claramente, dos que não esquecem...).
A universidade não é uma instituição com funções governamentais de qualquer tipo, não lhe foram atribuídas sequer tarefas diplomáticas. Convidou o homem porque quis, não era obrigada a isso, ninguém lhe encomendou o sermão nem ele era necessário e o reitor, se não concordava com o convite, poderia ter-se recusado a estar presente.
Faz sentido alguém convidar com a intenção declarada de o hostilizar? É moralmente aceitável tal atitude? É, ao menos, do bom-senso mais elementar fazê-lo? É útil em qualquer sentido? Não me parece. Só me parece lamentável.
E preocupante. Muito preocupante.

O divino, os carnavais e coisas que tais 3

Sophia com Vinicius de Moraes

Começo por transcrever este belíssimo texto de Sophia de Mello Breyner Andresen, publicado, há uns anos, no nº 3 da revista Crítica.

Fernando Pessoa dizia: “Aconteceu-me um poema”. A minha maneira de escrever fundamental é muito próxima deste “acontecer”. O poema aparece feito, emerge, dado (ou como se fosse dado). Como um ditado que escuto e noto.
É possível que esta maneira esteja em parte ligada ao facto de, na minha infância, muito antes de eu saber ler, me terem ensinado a decorar poemas. Encontrei a poesia antes de saber que havia literatura. Pensava que os poemas não eram escritos por ninguém, que existiam em si mesmos, por si mesmos, que eram como que um elemento do natural, que estavam suspensos, imanentes. E que bastaria estar muito quieta, calada e atenta para os ouvir.
Desse encontro inicial ficou em mim a noção de que fazer versos é estar atento e de que o poeta é um escutador.
É difícil descrever o fazer de um poema. Há sempre uma parte que não consigo distinguir, uma parte que se passa na zona onde eu não vejo.
Sei que o poema aparece, emerge e é escutado num equilíbrio especial da atenção, numa especial da concentração. O meu esforço é para conseguir ouvir o “poema todo” e não apenas um fragmento. Para ouvir o “poema todo” são precisas duas coisas: que a atenção não se quebre ou atenue e que eu não intervenha. É preciso que eu deixe o poema dizer-se. Sei que quando o poema se quebra, como um fio no ar, o meu trabalho, a minha aplicação não conseguem continuá-lo.
Como, onde e por quem é feito esse poema que acontece, que aparece como já feito? A esse “como, onde e quem” os antigos chamavam Musa. É possível dar-lhe outros nomes e alguns lhe chamarão o subconsciente, um subconsciente acumulado, enrolado sobre si próprio como um filme que de repente, movido por qualquer estímulo, se projecta na consciência como num ecrã. Por mim, é-me difícil nomear aquilo que não distingo bem. É-me difícil, talvez impossível distinguir se o poema é feito por mim, em zonas sonâmbulas de mim, ou se é feito em mim por aquilo que em mim se inscreve. Mas sei que o nascer do poema só é possível a partir daquela forma de ser, estar e viver que me torna sensível - como a película de um filme - ao ser e ao aparecer das coisas. E a partir de uma obstinada paixão por esse ser e esse aparecer.
Deixar que o poema se diga por si, sem intervenção minha (ou sem intervenção que eu veja), como quem segue um ditado (que ora é mais nítido, ora mais confuso), é a minha maneira de escrever.
Assim algumas vezes o poema aparece desarrumado, desordenado, numa sucessão incoerente de versos e imagens. Então faço uma espécie de montagem em que geralmente mudo não os versos mas a sua ordem. Mas esta intervenção não é propriamente “inter-vir” pois só toco no poema depois de ele se ter dito até ao fim. Se toco a meio o poema nas minhas mãos desagrega-se. O poema “Crepúsculo dos Deuses” (Geografia) é um exemplo desta maneira de escrever. É uma montagem feito com um texto caótico que arrumei: ordenei os versos e acrescentei no final uma citação de um texto histórico sobre Juliano, o Apóstata.
Algumas vezes surge não um poema mas um desejo de escrever, um “estado de escrita”. Há uma aguda sensação de plasticidade e um vazio, como um palco antes de entrar a bailarina. E há uma espécie de jogo com o desconhecido, o “in-dito”, a possibilidade. O branco do papel torna-se hipnótico. Exemplo desta maneira de escrever, texto que diz esta maneira de escrever, é o poema de Coral:

“Que poema de entre todos os poemas
página em branco?...”

Outra ainda é a maneira que surgiu quando escrevi o “Cristo Cigano”: havia uma história, um tema, anterior ao poema. Sobre esse tema escrevi vários poemas soltos que depois organizei num só poema longo.
E por três vezes me aconteceu uma outra maneira de escrever: assim o poema “Fernando Pessoa” apareceu repentinamente depois de eu ter acabado de escrever uma conferência sobre Fernando Pessoa. E o poema “Maria Helena Vieira da Silva ou itinerário inelutável” emergiu de um artigo sobre a obra desta pintora. E enquanto escrevi este texto para a Crítica apareceu um poema que cito por ser a forma mais concreta de dar a resposta que me é pedida:

Aqui me sentei quieta
Com as mãos sobre os joelhos
Quieta muda secreta
Passiva como os espelhos
Musa ensina-me o canto
Imanente e latente
Eu quero ouvir devagar
O teu súbito falar
Que me foge de repente

Durante vários dias disse a mim própria: tenho de responder à Crítica. Sabia que ia escrever e sobre que tema ia escrever. Escrevi pouco a pouco, com muitas interrupções, metade escrito num caderno, metade num bloco, riscando e emendando para trás e para a frente, num artesanato muito laborioso, perdido em pausas e descontinuidades. E através das pausas o poema surgiu, passou através da prosa, apareceu na folha da direita do caderno que estava vazia.
Ninguém me tinha pedido um poema, eu própria não o tinha pedido a mim própria e não sabia que o ia escrever. Direi que o poema falou quando eu me calei e se escreveu quando parei de escrever quando parei de escrever. Ao tentar escrever um texto em prosa sobre a minha maneira de escrever “invoquei” essa maneira de escrever para “ver” e assim a poder descrever. Mas, quando “vi”, aquilo que me apareceu foi um poema.

Queria, em primeiro lugar, fazer notar aos mais distraídos que o poema que "aconteceu" a Sophia de Mello Breyner condensa tudo o que o texto diz. Em seguida, que o processo de criação estética por ela descrito é comum a todos os artistas fundamentais da nossa cultura (ocidental, em sentido lato, mas também nisso são seguidos pelos orientais). Note-se: todos! Paul Klee dizia mesmo que quando pintava era como se o seu braço estivesse a ser guiado por alguém de quem ele era apenas o veículo. A obra não é um produto surgido de uma deliberação, esta segue-se como aperfeiçoamento de uma intuição, seja lá o que isso signifique.

Por último, seria interessante ter em atenção o testemunho de diferentes cientistas (Niels Bohr, por exemplo) sobre o papel da intuição, do sonho, inclusivamente, na ciência. Einstein, a propósito de Edison, falava do "génio" como sendo "um por cento de inspiração e noventa e nove por cento de transpiração". Desta sabemos todos, da outra... bem, parece que eles sabiam alguma coisa.

No post seguinte desta série procurarei clarificar o que aqui deixo à consideração de quem me leia, bem como sistematizar algumas questões. Talvez lá para o final de sexta-feira, uma vez que entre amanhã e quinta me será muito difícil fazer mais do que comentar alguma "tourada" menor.

25 setembro 2007

Por hoje, ainda uma recomendação:


demorem-se um bocadinho a ler os novos textos do Alf.

24 setembro 2007

O divino, os carnavais e coisas que tais 2

Henri Rousseau

Na discussão que originou o primeiro post desta série, continua a existir, penso eu, mais do que uma confusão.
Uma diz respeito ao salto que frequentemente se dá, na argumentação, entre fé e religião. Esse salto só pode ser dado - e, mesmo assim, com várias reservas - quando se trata das religiões do Livro. Porque não existe qualquer fé no budismo ou no taoísmo, por exemplo, mas unicamente uma intuição radical, total, num plano semelhante ao que Descartes aponta como fundamento do conhecimento em si mesmo e que Platão e, em particular, Plotino, (para não falar de Hegel, de outra maneira) entenderam como o momento da sua aquisição definitiva. Uma coisa, porém, é intuir a existência do divino como fundamento de tudo e de mim mesmo, outra, a religião, que só pode provir de uma revelação divina ou de inferência humana sobre o que essa intuição traz consigo, incluindo as normas e os ritos destinados a confirmar e a celebrar a alegria desse encontro com a fonte eterna da vida.
Mas, como diz o mesmo Descartes, é preciso tornarmo-nos em atletas da intuição, aprender, pela prática continuada do exercício de pensar, a distinguir aquelas que são claras e distintas das nebulosas, das que ainda carregam em si elementos estranhos ou indevidamente ligados no raciocínio.
É por isso que, ao contrário do que o próprio Galileu disse, convictamente ou por conveniência, e que a partir daí foi usual dizer, a religião nem sequer pode ter a ver seja o que for com a moral. Na medida em que a intuição do divino varia, a ética que lhe está associada também; a única ética possível de ser associada à atitude religiosa é, assim, o respeito pelo outro enquanto participante ou criação do divino, quer dizer, enquanto nosso semelhante.
A religião como fundamento de normas morais, isto é, massificada, isto é, politizada, é o maior perigo que há, na medida em que estabelece uma antropologia definitiva e limitadora e qualquer uma que as estabeleça só pode vir a contar, mais tarde ou mais cedo, com as contradições entre a "razão" e a vontade, a revolta e a auto-destruição. Se a religião se arrogar ainda a acrescentar-se uma visão cosmológica será, como o foi para a cristandade ao arrepio dos Evangelhos, a tragédia que se viu, das quais ainda estamos em saldos de fim de estação. Essa é a forma abastardada da compreensão do divino, geradora de conflitos e sem a qual as pessoas viveriam bem melhor.
A intuição é um prelúdio ao conhecimento e, simultaneamente, um seu horizonte e quer um quer o outro exigem o desvelamento subsequente. A intuição do divino envolve a descoberta do encadeamento dos fenómenos na procura de os integrar no significado, no sentido da existência, mas apenas isso.
Pretendo eu dizer com isto que a dúvida é mais importante do que a crença e que o verdadeiro religioso é o que abençoa a própria dúvida? Sim. Só isso, obviamente, o tornará digno perante o seu deus, porque não o terá amado por cobardia ou medo, mas porque o quer amar face a face. E não é preciso sair do nosso século: só os “crentes” se escandalizaram e procuraram negar as dúvidas da Madre Teresa de Calcutá, vindas a público num livro publicado recentemente.
Pretendo eu dizer com isto que a esfera do religioso é semelhante à esfera do saber científico, sob este aspecto? Mais uma vez, sim. Então porque é que uma parte da humanidade não possui intuições sobre o divino ou se limita a crendices com interesses muito concretos? Possivelmente porque, da mesma maneira que há quem tenha intuições fundamentais em algo de tão abstracto como o raciocínio matemático ou estético, há quem as tenha em relação a um possível divino. Um ateu não tem essa intuição, do mesmo modo que Fernando Pessoa seria, talvez, um péssimo músico ou o excelente médico X, que demonstra uma intuição extraordinária para se orientar no meio de uma floresta de sintomas que a maioria dos seus colegas não consegue, será um péssimo artista plástico, porque não tem intuição espacial. Porquê? Dizer que está nos genes, não responde a nada: os genes são a expressão de uma possibilidade que a eles próprios permitiu que existissem e que lhe é obvia e necessariamente prévia. Haveremos de o saber, se decifrarmos o sentido da existência humana.
Um ateu vive muito bem, obrigado, se não vier um gajo qualquer dizer-lhe que é um deficiente “intuicional”. Vem um “crente” dizer-lhe: “Olha, não é por mal, mas tu és coxo de crenças, eu sou melhor do que tu, sou escorreito e o melhor é perceberes que se não for eu guiar-te, estás feito”. Não há paciência! Compreende-se! “Deficiente? Já te viste ao espelho, oh!, geniozinho da lâmpada?”. E não é que o ateu está carregado de razão? Se Deus fez o mundo, os ateus também são filhos dele, e portanto, se os fez que os ature; se formos todos deus, esquecidos de que o somos, os ateus lembrar-se-ão disso quando lhes for conveniente. Não se discute a existência do sentimento poético; quanto aos poemas, gosta-se ou não se gosta, estão de acordo com o nosso caminho ou acrescentam-nos. E eu posso não gostar ou mesmo recusar o que me traz uma determinada concepção do divino, senti-la mesmo contra a minha natureza (esse Paraíso violenta-me, meu!). A minha natureza é um facto e se a teoria não contempla o facto, é porque não é verdadeira. O problema é do teorizador.
Não aprendi isto sozinho. Passo a explicar: quando era jovenzinho, um dos amigos que fiz a certa altura tinha-se convertido recentemente ao islamismo. Se hoje em dia isso ainda seria maioritariamente considerado bizarro, nessa altura era mesmo quase inconcebível. A estranheza e a curiosidade que, naturalmente, lhe demonstrei geraram muitas horas de conversa entre os dois, bem como as minhas leituras do Corão e, depois, de livros de outras religiões que ele lera, antes da conversão, à mistura com os ateus Sartre e Nietzsche, de quem ele gostava particularmente.
Um dia em que fui até lá a casa, encontrei-o a falar com um amigo dele, que estudava o budismo. Entrei na conversa e, a dado momento, perguntei ao outro se ele acreditava em Deus. O meu amigo (parece-me estar ainda hoje a ver a cena) que estava de olhos baixos, ouvindo-nos, levantou de repente a cabeça, como se tivesse sido picado e disse-me num tom quase ríspido: “Pá!, isso não se pergunta a ninguém!!”. Fiquei tão surpreendido que não soube o que fazer e calei-me, sem sequer lhe perguntar porquê. Só descobri o que ele queria dizer e a sua reacção alguns dias depois. E nunca nenhum de nós chegou a falar com o outro sobre o assunto (escusado será dizer que ele não tinha grande apreço pela comunidade muçulmana portuguesa). Entretanto, tinha lido uma frase de Nietzsche de que nunca mais me esqueci: “Desconfiai dos berradores”.
Por hoje, chega. Quero que vocês se lixem. Nem revejo o texto, nem nada. Vou jantar, que já é tarde e tenho fome, seja lá qual for a razão que me fez com essa necessidade.
Até amanhã.

23 setembro 2007

Hoje...


... foi dia de aniversário, cá em casa. Até amanhã.

22 setembro 2007

Um e-mail que recebi


A educação em Portugal...relatório da OCDE

O nosso Presidente da República referiu nas primeiras horas de 2007 que queria resultados imediatos na educação... pois, mas não vai ter enquanto tivermos um governo que hostiliza os professores, a escola pública e os trabalhadores do estado em geral. E ele também não faz nada para melhorar a situação.O relatório OCDE sobre ensino revela o que o ministério da educação sabe mas esconde cobardemente de forma a virar os portugueses menos esclarecidos contra os que labutam dia a dia por um ensino público de melhor qualidade. *Os **PROFESSORES* * em Portugal não são assim tão maus...* Consulte a última versão (2006) do Education at a Glance, publicado pela OCDE aqui.
Se for à *página 58*, verá desmontada a convicção generalizada de que os professores portugueses passam pouco tempo na escola e que no estrangeiro não é assim. Nesse estudo é apresentado o tempo de permanência na escola, onde os professores portugueses estão em 14º lugar (em 28 países), com tempos depermanência superiores aos japoneses, húngaros, coreanos, espanhóis, gregos, italianos, finlandeses, austríacos, franceses,dinamarqueses,luxemburgueses, checos, islandeses e noruegueses.
Se considerarmos apenas países da UniãoEuropeia, Portugal ocupa a 7ª posição em 19 países,portanto acima da média de tempo de permanência na Escola. No mesmo documento poderá verificar, na *página 56*, que os professoresportugueses estão em 21º lugar (em 31 países) quanto a salários, e em15ºlugar de 22 países europeus. Na *página 32* poderá verificar que, quanto a investimento na educação em relação ao PIB, estamos num modesto 19º lugar (em 31 países) e em 23º lugar(em 31 países) quanto ao investimento por aluno. E isto, o governo não manda publicar...mas não faz mal, divulgamos nós para que se SAIBA A VERDADE.
DIVULGUEM, SFF...

O nosso sistema de saúde é dos melhores do mundo


É este o título dado à entrevista a Correia de Campos, feita por Rui Solano de Almeida para o Acção Socialista de 17 deste mês. O título reproduz uma frase do ministro.
Ninguém tem aí um calmantezito que dê ao homem?

Cardápios alheios

Agostinho da Silva na vadiagem com Cáceres Monteiro





Quem reconciliou a minha juventude com o fado



20 setembro 2007

Os novos obscurantistas - adenda


Sabiam que, no 3º ano de escolaridade, o programa de matemática proíbe o professor de ir além do cm na escala métrica e que o mm só pode ser dado no 4º ano?
Ou que as fracções já há muitos anos deixaram de estar incluídas no 1º ciclo do ensino básico, sendo apenas utilizadas para explicar a divisão?

O divino, os carnavais e coisas que tais 1


Uma troca de ideias em que me tenho vindo a envolver desde há algum tempo no Que Treta!, com o seu “proprietário”, Ludwig Krippahl, e os restantes “frequentadores”, leva-me a iniciar a abordagem dos temas em foco nessa discussão (amigável), através da publicação sucessiva de pequenos textos que, no seu conjunto, procurarão esclarecer, com a sistematização possível, alguns aspectos que, inevitavelmente, não cabem, se dispersam ou ficam por referir num comentário. Dito de outro modo, procurarei fazer aquilo que me parece ser um indispensável “acerto do dicionário” em que se têm cruzado as diferentes perspectivas e pontos de vista, de modo a evitar os equívocos e o consequente “diálogo de surdos” que, a meu ver, se gerou, prejudicando a compreensão do que está em causa. E isto, sem recorrer sempre e necessariamente a elaborações teóricas complexas, mas também, como hoje, a pequenos casos e histórias, omitindo, como é natural, os nomes de quem nelas esteve envolvido.

Anos atrás, um amigo emprestou-me um livro de poemas de um seu avô já falecido, com quem tivera uma relação muito funda e terna. Pediu-me para ter um enorme cuidado com ele, uma vez que não só fora ele próprio que lho oferecera como era também o único exemplar que restava.
O avô fora um dos grandes cientistas portugueses do século XX (omito aqui também aqui em que área desenvolveu a sua actividade) e Einstein enviara-lhe uma carta extremamente elogiosa, convidando-o a trabalhar com ele nos Estados Unidos. Tal nunca veio a acontecer, por motivo de obrigações diversas, mas a família guardou sempre, com orgulho compreensível, a carta de Einstein.
Os poemas que encontrei no livro eram de uma beleza extraordinária. Toda uma concepção do cosmos era ali dada, numa visão de grandeza e maravilha, a que se juntava uma emoção profundíssima assente na experiência vivencial de um intimismo que provinha da busca de si mesmo e da raiz, lugar e significado da vida no universo. Lendo-os, veio-me à memória uma frase não me lembro de quem (Isadora Duncan?) que dizia que nenhum compositor americano conseguira, como a poesia de Whitman, traduzir o espírito e a intensidade emocional da América miticamente pioneira.
Os poemas do avô do meu amigo tinham exactamente essa música dentro de si, impregnando-nos de uma dimensão cósmica e libertadora, de um longe que se encontrava mesmo ali, dentro de nós. Quem quisesse, podia encontrar neles a síntese do que, segundo o neto, constava e era a inspiração dos trabalhos teóricos que fez ao longo da sua vida. Neles estava, em estado puro, a intuição que, posteriormente, procurara testar e explicitar de uma forma matemática e discursiva. E a visão do universo presente nessa intuição exigia, de uma maneira apenas poeticamente exprimível, admitir a existência do divino.
Voltei a entregar o livro e, estranhando nunca ter ouvido falar daquele nome, perguntei ao meu amigo que explicação dava para que ele fosse tão pouco conhecido. Respondeu-me que o avô nunca se preocupara com isso e que a sua avó, mal ele morrera, decidira destruir todos os exemplares, por considerar que ser crente e, além disso, poeta, era, num cientista, indício de qualquer problema do foro psicológico, uma das lamentáveis “maluquices” indiciadoras de uma excentricidade socialmente embaraçosa e comprometedora. Apenas aquele escapara, porque nunca soubera da sua existência.
A avó do meu amigo ignorava que, tempos antes, Openheimmer afirmara publicamente, provocando incredulidade, espanto, engulhos ou escândalo de muitos bem-pensantes, que os melhores livros de física que lera haviam sido os Vedas, os quais, com os Upanishades, formam o conjunto dos livros sagrados do hinduísmo. E duvido que isso sequer lhe interessasse.
A mim, porém, que nunca liguei a morte do meu pai à consumação da minha autonomia, antes sempre lamentei as incompreensões mútuas que impediram a nossa maior aproximação e amizade, não me fez impressão a presença de um deus pessoal nesses poemas; aceitei-o, enquanto parte essencial de uma visão profunda do Todo, embora o meu conceito de qualquer divino não inclua a relação paternal. E passados demasiados anos, a herança poética e a visão do mundo do avô do meu amigo, de quem desconheço o presente paradeiro, continua desconhecida e os meus compatriotas, por isso mesmo, mais pobres.
Nota: o link está disponível aí ao lado, a partir de hoje.

18 setembro 2007

Prevejo que nos próximos dois dias...


... venha a ter alguns problemas com a internet. Com sorte, talvez só por um dia. Com muito mais sorte, nenhum.
Até já.

17 setembro 2007

Os novos obscurantistas


Esta passou-se há minutos.
A sobrinha a que fiz referência num post recente chegou a minha casa, trazendo novamente um tepecezito. Na ausência da mãe, pediu ajuda para o fazer à minha mulher (eu estava ocupado), que, estranhando, lhe perguntou o que levara a professora a marcar-lho. Respondeu-lhe a rapariga que tinha pedido para fazer aquela parte do trabalho em casa e, assim, poder ficar mais um bocadinho no recreio e que ela lho permitira, um pouco zangada, "mas só hoje!". Até aqui...
A primeira tarefa consistia em... escrever o abecedário. Os meus tímpanos apuraram-se: é que a miúda está no 2º ano do 1º ciclo do ensino básico, ou seja, na antiga 2ª classe. Logo de seguida ouvi-a pedir um livro onde houvesse um alfabeto... para poder copiá-lo e os meus ouvidos entraram definitivamente em estado de alerta total. Retorquiu-lhe a tia que o que se lhe pedia era que o escrevesse, não que o copiasse. E a petiza disse que não o sabia!
Entre incrédulo e aterrorizado, de telefonema em telefonema para amigos e conhecidos, fiquei a saber que os professores do referido ciclo de ensino - os tais, de cuja falta de empenhamento resultam, com demasiada frequência, situações problemáticas, segundo a Ministra da Educação - deverão, segundo o programa, fazer com que o aluno conheça o abecedário... até ao fim do ciclo, isto é, até à 4ª classe!! "Conhecer", porém, na terminologia dos cientistas da educação, não coincide com "saber"... e daí que haja professores do 5º ano, isto é, já do 2º ciclo, que dediquem aulas a rever o alfabeto e a respectiva ordem! E que os alunos das escolas do 1º ciclo que cumprem rigorosamente o programa apresentem, em geral, maus resultados no ciclo seguinte.
As incoerências próprias de um louco que se encontram no programa do 1º ciclo do ensino básico não se ficam por aqui e, em matemática, são de bradar a qualquer Deus. Mas, na impossibilidade de dar sistematicamente conta do descalabro a que as coisas chegaram, quero apenas referir algo que, em ligação com o que acabei de contar, se torna muito significativo noutros campos.
Conversa puxa conversa, fiquei a saber de dois casos que se passaram com um professor do ensino secundário, ambos relacionados com a avaliação de trabalhos alunos, e que ele me garantiu serem o pão nosso de cada dia, de Norte a Sul deste lindo jardim. Num deles, o marmanjo apresentou-lhe um trabalho de mestrado com duzentas páginas, redigido em português do Brasil e ficou furioso por a sua "investigação" não ter sido valorizada; no segundo caso, um grupo de alunas apresentou-lhe fotocópias de outro trabalho de mestrado... com a respectiva classificação!... e com agradecimentos à professora fulana de tal!!!
Serão casos extremos e caricaturais? Admito que sim. Mas que é este o espírito de "investigação" dos alunos presente nas nossas escolas, disso eu não tenho dúvidas. Basta ouvir os putos que nos estão próximos, familiares, vizinhos, amigos ou conhecidos. O que não pode espantar ninguém! Pois como se pode consultar um simples dicionário ou a lista telefónica sem se saber sequer o que, anos atrás, qualquer aluno, ao fim de alguns meses de escolaridade seria obrigado a saber, a base daquilo com que os nossos antepassados recentes quiseram erradicar a miséria, o obscurantismo e a servidão: o alfabeto?!
Esta noite, no Prós e Contras, estará a Professora Doutora Maria de Lurdes Rodrigues. Acho que já não consigo ter estômago para assistir.

16 setembro 2007

Abobrinha


Descobri-a hoje, por acaso, a partir de uns excelentes comentários que fez a alguns dos posts mais recentes de Ludwig Krippahl, no Que Treta!.
Deliciosa!... Inteligente...!
Esta tripeira "é um sinhôre"!, como diria o Herman.
Mulher do carago...!
Cliquem no link aí ao lado.

15 setembro 2007

Vergonhoso!


A sra. ministra da educação fez ontem um dos mais repugnantes exercícios de demagogia de que tenho memória, ao apelar aos professores do ensino básico para reprovarem o menor número de alunos possível, de modo a não lhes criar estigmas prejudiciais, referindo, em simultâneo, que a culpa dos maus resultados é, em muitos casos, consequência da falta de empenhamento dos docentes.
A sra. ministra revelou um comportamento vergonhoso quer como cidadã quer como detentora de um cargo público, na medida em que utilizou uma afirmação depreciativa, generalista e impossível de fundamentar, vulgo calúnia, sobre um conjunto de profissionais sob a sua alçada, como arma de justificação e sobrevivência políticas.
Passo a passo, a sra. ministra deve ao país, cada vez mais inadiavelmente, a sua demissão.
Nota: Há dias, a minha sobrinha, de 7 anos, a quem a professora tinha marcado um pequeno T.P.C., respondeu à mãe com uma veemente repetição da frase: "Não sou obrigada!", quando esta lhe disse para o ir fazer. Mostrava assim que estava a par das orientações e determinações do ministério nesta matéria, que a rapariga não é parva.
Comentários?

E agora, fiquem a ouvir um dos meus favoritos: Wynton Marsalis











14 setembro 2007

Medalha de mérito para o sr. Scolari!!


... por ter sido o único, até hoje, a fazer com que o sr. Presidente da República se pronunciasse clara e concretamente sobre um assunto determinado!

Esta...


... tem muita piada!

13 setembro 2007

Ainda a visita do Dalai Lama


Quem conhece um pouco de budismo sabe que o termo "irrelevante", aplicado pelo Dalai Lama à decisão do governo e do presidente da república portuguesa de não o receberem, exprime exactamente o que ele sente e pensa, que não se trata de uma forma de contornar algo que lhe é politicamente inconveniente, de responder com o reverso da mesma moeda ou de disfarçar uma humilhação pessoal.
O primeiro-ministro, a sua equipa governativa e o presidente de todos os portugueses deram-se assim a si próprios, por reflexo das suas acções, a maior bofetada das suas vidas.
E tanto maior quanto nem sequer a sentiram.

Criou-ma m'nha menzinha p'ra isto...!


Ah! A China...!
Ah! Que falta de paciência...!!!

Tás porreiro?


Frases que talvez possam mudar o mundo

"Jornalista: Porque é que veio a Portugal?
Dalai Lama: Porque me convidaram e me deram um bilhete."

12 setembro 2007

Já agora...

Goya, Feiticeiras

... e como diz o Rodrigo Moita de Deus...

10 setembro 2007

Dúvidas minhas


Na entrevista a que aludi ontem, dada pelo coordenador da comissão do livro escolar da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros e "representante daquela que é ainda é a maior editora escolar, a Porto Editora", Vasco Teixeira, o mesmo responde à pergunta "As movimentações no mundo editorial alteraram o terreno?", dizendo: "Temos concorrentes mais capazes, mais dinâmicos, mais fortes. Isso é bom. Acho que o engº Paes do Amaral [proprietário da Texto Editora e da ASA] se apercebeu de uma oportunidade de concentração que não existia. A Porto Editora deu o mote à concentração quando, em 2002-2003, comprou a Areal e a Lisboa Editora. Só não comprámos mais porque não é fácil sem ir à Autoridade da Concorrência, por causa da burocracia que implicava".
Para aqueles que desconheciam o facto, o engº Paes do Amaral decidiu recentemente investir no mercado livreiro escolar. O homem será suicida?

No primeiro dia em que foi noticiada a abertura de (salvo erro) duzentas e tal novas creches nos próximos anos, referiu-se o facto de o número das que já encerraram ser substancialmente superior, (salvo erro) trezentas e tal. Nos dois dias seguintes, já não ouvi nada.
Estarei a ensurdecer com a idade?

09 setembro 2007

Uma anedota que me enviaram ontem



Um bebedolas entra num bar e pede ao balcão três cafés.


- Três cafés? - Pergunta, atónito, o empregado.


- Sim, um para mim, outro para ti e outro prá puta da tua mãe.


No dia seguinte, o mesmo bebedolas repete o mesmo pedido, no mesmo café e ao mesmo empregado:


- Três cafés...


- Três?...


- Sim. TRÊS... Um para mim, outro para ti e outro prá puta da tua mãe.


Desta vez o empregado "passou-se", saiu do balcão, agarrou no bebedolas e deu-lhe uma sova e peras!


No dia seguinte, todo entrapado, o bebedolas vai na mesma ao café, dirige-se ao balcão e o empregado com um sorrisinho cínico pergunta-lhe:


- Então, três cafezinhos, não é verdade?...


- Não, responde o bebedolas, só dois: um para mim e outro prá puta da tua mãe! Pra ti não, porque o café "altera-te" o sistema nervoso...

08 setembro 2007

Mas antes: Bobby McFerrin

07 setembro 2007

Para que não se diga que eu só digo mal...!

René Magritte

A responsável pela mais abjectamente incompetente e arrogante equipa política do Ministério da Educação desde há, pelo menos, quatro décadas, Maria de Lurdes Rodrigues, afirmou que não lhe compete a si nem ao ministério resolver o problema dos professores desempregados.
Pela primeira vez, a ministra tem razão! Mas disse uma meia-verdade! A sério, a sério, nem a meia chegou...
Neste texto com que dei via Range-o-Dente (tem andado ausente, homem!), explica-se um dos bocadinhos de verdade de que ela não falou. Da outra, encarregar-me-ei, tanto quanto saiba e possa, dentro dos próximos dias. É que o trabalho já começou a apertar...

06 setembro 2007

Comentário

Turner, Naufrágio
A este texto de Miguel Portas, hoje publicado...
Justiça em mar, julgamento em terra
A 7 de Agosto, algures entre a costa tunisina e a ilha italiana de Lampedusa, dois pescadores tunisinos, regularmente inscritos no departamento marítimo de Monastir, socorreram em alto mar 44 imigrantes sem papéis, entre os quais 11 mulheres e duas crianças, pouco antes da barca em que iam se afundar. Recolhidos, os pescadores levaram-nos até porto seguro, em Lampedusa.
Por causa disto, os sete homens que constituíam a equipagem das duas embarcações, foram presos pelas autoridades italianas. Contra eles foi aberto um processo legal a 14 de Agosto, na cidade de Agrigento, no Sul de Itália. que se pode concluir com uma condenação até 15 anos de cadeia. Acusação: favorecimento da imigração clandestina e tráfico de seres humanos.
Depois destes acontecimentos, repetiram-se casos em que embarcações legais quebraram o princípio da solidariedade no mar, para que as suas equipagens não incorressem em risco de prisão.
Palavras para quê? Amanhã realiza-se em Agrigento uma vigília de solidariedade que exigirá a mudança da lei. Vários eurodeputados - incluindo este vosso servidor - subscreveram um apelo que exige da Comissão Europeia e do governo italiano o fim da criminalização de quem proceda ao salvamento de náufragos, incluindo aqueles que a lei designa como “ilegais”.
... só pude responder, desde logo, isto, na caixa de comentários:
"Quer dizer, funcionou o princípio da cobardia! Em vez de uma manifestação de solidariedade que incluísse partir aquela m... toda, se preciso fosse, deixaram morrer náufragos! Em vez da desobediência civil, a traição à solidariedade mais básica! É a continuação e o reforço da impunidade dos que praticam a arbitrariedade! É a defesa do opressor, reforçando a opressão sobre os e pelos oprimidos!Acho que a sua acção como deputado deveria ser não apenas a exigência da alteração da lei italiana como mas também a de um castigo exemplar para quem infringiu a lei do mar!
Vamos a isso?
Depois logo se fala do problema da imigração clandestina..."
Mas tenciono voltar ao(s) assunto(s).

Para terminar por hoje em beleza...

Luiz Pacheco

... aqui fica uma referência a um texto erótico-satírico de Luiz Pacheco, pescado no recém-adicionado (aí ao lado) Confraria da Alfarroba.
Deliciem-se e até amanhã.

05 setembro 2007

O sonho de um louco


Ouvi agora de raspão, no telejornal da 1, que haverá três carreiras docentes no país: a que o ME decretou no continente e outras duas, correspondentes a cada uma das regiões autónomas. Ao que parece, pelos menos nos Açores, os aspectos mais polémicos do novo estatuto da carreira docente não entrarão em vigor.
É uma boa altura para Paulo Portas se começar a preparar para ser o novo primeiro-ministro. Basta que estenda a sua proposta de os alunos poderem escolher livremente as escolas que pretendem frequentar aos professores, isto é, que estes possam leccionar na escola que desejem, e terá uma vitória retumbante em 2009.
Ou será que, com o previsível melhor funcionamento futuro dos estabelecimentos de ensino da Madeira e dos Açores em relação aos de Portugal continental, este foi um golpe para anular o perigo da actual proposta do Paulinho?
Agora a sério: parabéns aos governos autónomos! Haja alguém que mantenha a lucidez, no meio do verdadeiro sonho de um louco em que o actual governo está a conseguir fazer imergir o país. Mas que também não haja dúvidas quanto aos perigos que este tipo de coisas representa para a coesão dos portugueses...!

04 setembro 2007

O que é que há de estranho ou de escandaloso nisso?

E. M. Escher, Relatividade

Os partidos de raiz bolchevique distinguem-se dos restantes socialistas ou de tendência socializante pelo apelo à força, como única forma de os espoliados conseguirem alguma vez alcançar o poder e instaurar a sua ditadura sobre os restantes membros da sociedade, de forma a realizarem a sua concepção de justiça. Um partido comunista que renegue a tomada do poder pela violência se preciso for (e, segundo Lenine, ela será sempre necessária) deixa de se poder apresentar como tal, reduzindo-se nesse caso ao estatuto de ala radical de um partido socialista.
Durante anos, a existência da URSS permitiu que os comunistas europeus se afirmassem não-leninistas, como forma de captarem eleitorado e porque tal convinha ao berço do homem novo, na sua concretização dos amanhãs-que-cantam. Foi o que se viu. Quanto ao PCP, Álvaro Cunhal e os seus camaradas foram condicionados nas suas aspirações à tomada do poder não apenas pela oposição interna, mas também pela falta de apoio do Kremlin nesse sentido. No resto do mundo, a coisa era diferente: a União Soviética sustentava a maioria da guerrilha anti-americana, apostando deste modo em ganhar terreno em seu favor.
Com a implosão do bloco de Leste, os partidos marxistas-leninistas europeus sobreviventes viram-se ainda mais obrigados a negarem a sua raiz distintiva, isto é, a apologia do recurso à violência como condição indispensável à revolução dos explorados e oprimidos e, por consequência, encontraram-se rapidamente à beira da extinção a médio prazo, uma vez que, na nova situação, pouco mais podiam oferecer do que os partidos socialistas. Um processo de morte lenta que os resultados eleitorais vêm também anunciando desde há tempos em relação ao Partido Comunista Português, de entre todos o mais vigoroso, devido ao seu historial de resistência política a Salazar.
A legítima indignação e revolta daqueles que são atropelados por um capitalismo caótico e, em simultâneo, excessivamente concentracionista é, porém, inevitável e enquanto a propaganda do partido não soar como demasiado obsoleta, este irá angariando alguma juventude para as suas fileiras, mas não em número suficiente para conseguir perdurar por muito tempo à morte dos velhos militantes.
É neste contexto, apressada e superficialmente exposto, que, penso eu, devemos encarar a presença das FARC na próxima festa do Avante!, que tanta polémica tem gerado. O PCP não está a ser incoerente, mesmo quando mente com quantos dentes os seus dirigentes têm na boca, muito pelo contrário. Essa é a única estratégia possível na perspectiva que lhe é própria sobre a actual situação nacional e internacional, sem trair os seus ideais. Um passo atrás, dois à frente, segundo prescreve o manual leninista. As FARC são-lhe indispensáveis para marcar a diferença em relação a todas as outras correntes socialistas: elas são a "prova" de que o que distingue o PCP dos outros partidos está vivo e que, portanto, o comunismo é tão actual e tem uma natureza tão perene como o recurso à violência é inerente à espécie humana, de que o PCP é um partido que "vale a pena". A presença das FARC não é inocente, mas também não é uma provocação nem um demonstração de rebeldia ou de força. É somente o estrebuchar de quem luta desesperadamente pela sobrevivência.

Pensamentos cruzados

E. M. Escher, Encontro


Hoje de manhã, na RDP1, noticiava-se a instalação de sistemas de videovigilância nas escolas públicas. Em consequência:
Primeiro, lembrei-me da história do médico que se empenhava em fazer desaparecer os sintomas da doença, em vez de ir à sua raiz, eliminando-a. Assim, os pacientes pagavam de bom grado as consultas e os tratamentos, demorando mais tempo a aperceberem-se da sua incompetência.
E de que esta lhes acelerava a morte.
Depois lembrei-me desta frase, não sei de quem: "Ser polícia não é uma profissão, é um estado de espírito".
A seguir, veio-me à memória uma outra, proferida por Lord Darwin, personagem do romance Fundação, de Isaac Asimov: "A violência é o refúgio dos incompetentes".
Por fim, o que, anos atrás, um amigo meu, antigo docente da Escola Superior de Belas-Artes, me contou sobre uma experiência marcante que teve como professor na Venezuela da década de 60, a Venezuela de Carlos Andrés-Perez, à época grande esperança para a evolução democrática da América Ibérica.
Até hoje, nunca mais se esqueceu da sensação indescritível de ter que dar aulas com um polícia de metralhadora ao lado da secretária.
Foi isto.

03 setembro 2007

Apreensões


Ouvi há pouco, na RTP1, a notícia de umas quantas medidas tomadas pelo Ministério da Educação para combater o abandono escolar ao nível do Ensino Secundário e, de seguida, a sra. Professora Doutora Maria de Lurdes Rodrigues, correspondente ministra, a justificá-las e a defendê-las das objecções de José Rodrigues dos Santos com os mesmos lugares-comuns de sempre.
Como dizia a aristocrata francesa, de cujo nome me não recordo de momento, é preciso mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma. À excepção das medidas destinadas a diminuir as despesas do Estado com a educação, para a memória futura do país, porém, nada mais restará da acção da sra. Ministra e da sua equipa do que o total descalabro do ensino público em Portugal. Porque não mudou, de facto, nada. Pior: a pretexto de os combater, aprofundou, reforçou e ajudou a enraizar ainda mais todos os males de que esse mesmo ensino precisaria livrar-se com a maior urgência, manifestando uma completa desorientação e irreflexão quanto aos critérios a adoptar, traduzidas, frequentemente, na postura autoritarista e em decisões administrativas lamentáveis próprias de quem, por esse motivo, se fica pela atitude defensiva.
Atendendo, contudo, ao que tenho ouvido dos partidos da oposição com representação parlamentar (ainda há minutos Paulo Portas, entrevistado por Mário Crespo, falava das propostas do PP sobre o tema), é assustadora, mesmo sinistra, a superficialidade das perspectivas e o vazio de ideias manifestado pelos seus dirigentes neste campo.
É que, mais do que perante um problema político, estamos perante um problema cultural da sociedade portuguesa no seu conjunto, um problema de séculos e que será, a meu ver, dolorosamente difícil de ultrapassar.

02 setembro 2007

A ler


Não vi a entrevista a Gualter Batista, do Verde Eufémia, feita por Mário Crespo. Mas conheço, todos conhecemos, o tipo de argumentos referidos neste post de O Observador, de André Abrantes Amaral. Que recomendo como se fosse meu.

Na boa tradição portuguesa...


É que...


... estou mesmo a queimar os últimos cartuchos!
Aproveito para agradecer ao António, do Sem Penas, a amabilidade das suas palavras, bem como o ter-me colocado entre os blogs favoritos. Já tinha lido o texto que me indicou e tencionava, como já fiz, pô-lo também entre os links que aconselho a quem apareça por aqui.
Responderei aos comentários logo que me passe a lazeira.
Aconselho ainda a leitura deste texto de Rodrigo Moita de Deus, no 31 da Armada, que poderia, em grande medida, ter sido escrito por mim (tenciono, aliás, abordar o assunto um dia destes, embora numa perspectiva mais alargada e em discordância com ele sobre alguns aspectos).
Até amanhã.

01 setembro 2007

Boa malha!

E. M. Escher, Dragão

E não percam este texto (que inveja a minha!) n' O Jumento