Gustave Courbet, A Origem do Mundo
Quando, poucos anos atrás, uma exposição dos mestres da pintura portuguesa do século XIX, realizada em Paris por iniciativa do nosso Ministério da Cultura, foi considerada pela crítica francesa como um conjunto de obras que se limitavam a exprimir uma concepção de arte na época já há muito ultrapassada, os patrioteiros do costume mostraram-se emproadamente indignados com mais uma afronta à dignidade nacional.
A indignação, porém, não pode esconder aquilo que alguém minimamente conhecedor de arte sabe: que a crítica francesa tinha toda a razão e que apenas a inexistência de educação e de perspectiva estéticas elementares pode engrandecer aquilo que é, de facto, confrangedoramente provinciano e, para o tempo, tristonhamente convencional. Foi esta, aliás, a estreiteza de vistas com a qual, pouco tempo depois, se deparou Amadeo de Souza-Cardoso e com que se depararam Pessoa, Almada, Sá-Carneiro e todos os outros. No Portugal onde ainda agora se passou isto, a propósito do quadro de Courbet, pintor francês contemporâneo de Columbano e Malhoa, que ilustra este desabafo.
O episódio é mais do que ridículo ou lamentável. Porque é a confirmação (mais uma) de que o país não muda na sua essência, que continua viscosamente hipócrita, manhosamente mesquinho, submerso na pequenez que o mantém num limbo infernal e, pior do que isso, incapaz de se ver ao espelho sem querer tirar de imediato um qualquer proveito que compense, ao seu olhar, desorientado e incerto, a cobardia que o tolhe.
Algo que o faça ganhar moralmente. E, se possível (sempre!), uns tostõezitos. Que isto vai para aí uma crise...!
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