A Assembleia da República acaba de mostrar a sua verdadeira face, ao estipular que os senhores deputados só precisam de justificar ausências que excedam os cinco dias. A justificação de tal decisão assenta na superior honestidade que se supõe que os mesmos possuam.
Assim, de uma penada, a digníssima instituição, rosto escrito e escarrado da lusa democracia de antanho, pôs tudo e todos no seu devido lugar. Com efeito, se já seria impossível aos portugueses suspeitar da idoneidade e elevação dos seus representantes, dado o superior nível intelectual e de fino trato demonstrado nas discussões acaloradas que entre si mantêm em prol do engrandecimento pátrio, verdadeiros espelhos da mútua admiração e consideração que anima os representantes do povo, inestimáveis e insubstituíveis instrumentos de pedagogia cívica para a formação dos portugueses do futuro, a partir de hoje não haverá mais dúvidas. A Assembleia assumiu, à sua dimensão e no seu âmbito, a tendência internacionalmente florescente do que é conhecido por “sair do armário” e assumiu-se, decidida e corajosamente, como consciência moral da nação. O “Magalhães”, golpe de asa que somente os dotados de genialidade poderiam alcançar, iluminou o caminho; a instituição política maior do país reforça agora, firme e inexoravelmente, o caminho da modernidade ética.
Frontalmente, da direita à esquerda (ninguém se opôs ou sequer se dispôs a falar sobre o assunto publicamente), os senhores deputados, sem abusarem de subtileza, disseram desta maneira aos restantes compatriotas que, se os elegeram, é porque neles é patente a superioridade dos grandes homens, que os isenta de terem que se justificar os actos que, a serem praticados por outrem, seriam motivo de suspeita ou condenação. E que os senhores deputados, em consonância com o governo, no seu louvável afã de prover à moralização e dignificação do nosso querido torrão de terra europeu, se apressam a estipular e a aprovar, para glória sempiterna dos trabalhos hercúleos da sua legislatura, as disposições que atestam esse facto e essa sua condição.
Os senhores deputados disseram, pois, a todos nós, com a delicada arte e o sublime sentido pedagógico que lhes são próprios: “Observai os nossos actos em silêncio, meditai humildemente sobre o seu significado, reverenciai a autoridade da sabedoria que nos trouxe inevitavelmente até aqui e que por vós foi confirmada, escolhendo-nos”. Os senhores deputados levaram-nos ao espelho, mostrando-nos a nossa condição de escória moral de quem há que desconfiar, a quem há que educar. Estabeleceram, num decisivo gesto, a fronteira que, aquém-fronteiras, define indubitavelmente a real virtude que permite a qualquer um achar-se português: a impunidade no decidir para si em nome do alheio. Revelaram-nos com exacta mestria o significado dos conceitos de honra e de vergonha, recortando-os em perfeito contraste. Deram-nos a medida da legitimidade da sua força, afirmando, através do senhor deputado Lello (condenado seja para sempre quem com o seu nome fizer trocadilhos!), que estas medidas poderiam ter ido ainda mais além e que a Assembleia não anda a reboque dos órgãos de comunicação.
É que os senhores deputados são, afinal, a nata do silêncio em que se fazem ouvir.
Assim, de uma penada, a digníssima instituição, rosto escrito e escarrado da lusa democracia de antanho, pôs tudo e todos no seu devido lugar. Com efeito, se já seria impossível aos portugueses suspeitar da idoneidade e elevação dos seus representantes, dado o superior nível intelectual e de fino trato demonstrado nas discussões acaloradas que entre si mantêm em prol do engrandecimento pátrio, verdadeiros espelhos da mútua admiração e consideração que anima os representantes do povo, inestimáveis e insubstituíveis instrumentos de pedagogia cívica para a formação dos portugueses do futuro, a partir de hoje não haverá mais dúvidas. A Assembleia assumiu, à sua dimensão e no seu âmbito, a tendência internacionalmente florescente do que é conhecido por “sair do armário” e assumiu-se, decidida e corajosamente, como consciência moral da nação. O “Magalhães”, golpe de asa que somente os dotados de genialidade poderiam alcançar, iluminou o caminho; a instituição política maior do país reforça agora, firme e inexoravelmente, o caminho da modernidade ética.
Frontalmente, da direita à esquerda (ninguém se opôs ou sequer se dispôs a falar sobre o assunto publicamente), os senhores deputados, sem abusarem de subtileza, disseram desta maneira aos restantes compatriotas que, se os elegeram, é porque neles é patente a superioridade dos grandes homens, que os isenta de terem que se justificar os actos que, a serem praticados por outrem, seriam motivo de suspeita ou condenação. E que os senhores deputados, em consonância com o governo, no seu louvável afã de prover à moralização e dignificação do nosso querido torrão de terra europeu, se apressam a estipular e a aprovar, para glória sempiterna dos trabalhos hercúleos da sua legislatura, as disposições que atestam esse facto e essa sua condição.
Os senhores deputados disseram, pois, a todos nós, com a delicada arte e o sublime sentido pedagógico que lhes são próprios: “Observai os nossos actos em silêncio, meditai humildemente sobre o seu significado, reverenciai a autoridade da sabedoria que nos trouxe inevitavelmente até aqui e que por vós foi confirmada, escolhendo-nos”. Os senhores deputados levaram-nos ao espelho, mostrando-nos a nossa condição de escória moral de quem há que desconfiar, a quem há que educar. Estabeleceram, num decisivo gesto, a fronteira que, aquém-fronteiras, define indubitavelmente a real virtude que permite a qualquer um achar-se português: a impunidade no decidir para si em nome do alheio. Revelaram-nos com exacta mestria o significado dos conceitos de honra e de vergonha, recortando-os em perfeito contraste. Deram-nos a medida da legitimidade da sua força, afirmando, através do senhor deputado Lello (condenado seja para sempre quem com o seu nome fizer trocadilhos!), que estas medidas poderiam ter ido ainda mais além e que a Assembleia não anda a reboque dos órgãos de comunicação.
É que os senhores deputados são, afinal, a nata do silêncio em que se fazem ouvir.
Nota final: escrito de rajada e sem revisão ou emendas, passadas ou futuras.
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