17 maio 2009

Angústias minhas


Lisboa, 17 Mai (Lusa) - A ministra da Educação defendeu hoje que o "manual de aplicação" destinado aos professores durante a realização das provas de aferição "é muito útil" e "absolutamente necessário" aos docentes para assegurar igualdade em todas as turmas.
"O manual de aplicação é isso mesmo. É um manual técnico feito pelos serviços, sempre fez e sempre assim foi. É muito útil. Evidentemente que é absolutamente necessário [aos docentes] para criar situações de igualdade em todas as turmas que fazem as provas ao mesmo tempo", afirmou Maria de Lurdes Rodrigues.
Questionada pela Agência Lusa à margem de uma cerimónia de entrega de certificados de habilitações a alunos no âmbito do programa "Novas Oportunidades, em Lisboa, a ministra frisou que o manual, que dá indicações muito específicas, incluindo as frases que os professores devem dizer a cada momento da prova, "é um guia de apoio aos professores" e disse que "já o ano passado houve uma tentativa de fazer um número à volta disso".
Diz-se no portal Sapo (clicar sobre o texto).
Gostaria, como cidadão, que a sra. Ministra da Educação esclarecesse publicamente o que quis dizer com o termo "número". É que, tanto quanto me lembre, ele é habitualmente aplicado aos conteúdos de espectáculos de circo e de vaudeville e, com maior frequência, ao trabalho dos palhaços, em particular. Para sua própria defesa e do regime, não deveria assim a sra. Ministra deixar espaço a quaisquer especulações sobre eventuais intenções insultuosas que tivesse ao utilizá-lo.
Com efeito, se não se der a esse trabalho, tal poderá vir a dar razão, por omissão, àqueles que afirmam da actual equipa de governação ser indigna de estar à frente de um país europeu e democrático; que um governante que se permite o insulto a quem com ele não concorda, é gente do mais baixo nível, vergonha de quem diz representar nas suas decisões; que tal gentinha, a pretexto da firmeza e do "progresso", é na realidade filha dilecta da pior (porque a mais firme e duradoura) das ditaduras: aquela que se enraiza num estado de espírito próprio de um provincianismo cultural e cívico reles. Por outro lado ainda porque, ao entrar pela indignidade dessa via, abriria caminho ao direito de retorquir no mesmo tom aos que se sentirem visados no comentário, minando desse modo o respeito pela autoridade das instituições que sustentam o Estado e o viver colectivo, estimulando implicitamente a legitimação e o recurso à violência por intermédio do desbragamento verbal.
Coisa que eu, para quem a madrugada de 25 de Abril de 1974 tanto de belo significou, consideraria catastrófico e inaceitável. Eu, para quem a autoridade democraticamente estabelecida é sagrada e insusceptível de ser desrespeitada, por actos ou sequer por atitudes ou palavras. Mas como poderei eu, ou qualquer outro, defender a sra. Ministra de tais suspeitas se ela própria o não fizer de imediato, caso alguém venha a chamar-lhe, por exemplo, "uma venenosa farsante, medíocre e irresponsável"?!
E eu bem que gostaria de o fazer...! Mas como?
Como?!

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