RANCHÃO DE NATAL
É de casca o meu barquinho
E é de lixo esta cidade;
Aqui manda e segue a estrada
A louca erguida na tarde.
Pede esmola o tipo rasca
Pede ardor a fresca nata,
E em Lisboa, praça fora,
Dois irmãos a dar à pata.
«Cavaleiro, a tipa goza,
O meu quisto na cueca”
Para ti, real pateta
Da poesia a grande seca
II
E já brocha, aquela Santa,
Na igreja e a preceito:
Sua chuva, casa tonta,
Faz-nos vir com tudo feito
Esta missa em Sol e dós
E a burrice prò santão…
Eis que me venho p’ra vós,
Da fundura do caixão.
Natal o metes p’ra lá
Antes do sol-pôr chegar
Natal o metes p’ra cá
Pondo o bento a defecar
O silêncio é de cerimónia
neste Natal de toilette
Com santos à dependura
Nos fulgores duma retrete
Se a lua nos desse fruto
Se o sol nos desse conchego
Se Portugal fosse o luto
Dum fato posto no prego
Que o rito que alguns nos dão
Faz arrotar devagar
Depois da missa do galo
Com todo a gente a chorar
Não quero a religião
nem quero enganos a esmo
quero só a liberdade
inda que feito em torresmo.
ELÓI SARNADAS
É de casca o meu barquinho
E é de lixo esta cidade;
Aqui manda e segue a estrada
A louca erguida na tarde.
Pede esmola o tipo rasca
Pede ardor a fresca nata,
E em Lisboa, praça fora,
Dois irmãos a dar à pata.
«Cavaleiro, a tipa goza,
O meu quisto na cueca”
Para ti, real pateta
Da poesia a grande seca
II
E já brocha, aquela Santa,
Na igreja e a preceito:
Sua chuva, casa tonta,
Faz-nos vir com tudo feito
Esta missa em Sol e dós
E a burrice prò santão…
Eis que me venho p’ra vós,
Da fundura do caixão.
Natal o metes p’ra lá
Antes do sol-pôr chegar
Natal o metes p’ra cá
Pondo o bento a defecar
O silêncio é de cerimónia
neste Natal de toilette
Com santos à dependura
Nos fulgores duma retrete
Se a lua nos desse fruto
Se o sol nos desse conchego
Se Portugal fosse o luto
Dum fato posto no prego
Que o rito que alguns nos dão
Faz arrotar devagar
Depois da missa do galo
Com todo a gente a chorar
Não quero a religião
nem quero enganos a esmo
quero só a liberdade
inda que feito em torresmo.
ELÓI SARNADAS
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