Quadro de Paul Delvaux
Recebi mesmo agora a notícia de que a minha amiga de juventude Raquel Seabra Pinto, a quem ouvi alguns dos poemas mais autênticos de que me lembro, mas que desde muito cedo se remeteu ao silêncio, faleceu hoje, no IPO, devido a um linfoma. Aqui deixo um desses seus poemas, sem mais quaisquer outras palavras.
Sobre a planura as suas asas espraiando
o anjo vigia e guarda.
À noite as águas silenciosas da laguna
reflectem-lhe o dorso, curvado sobre as
árvores frias.
Mãos invisíveis tecem-lhe nos cabelos
segredos antigos
que os homens esqueceram há muito
ou nunca sequer souberam
E parte, por sobre as nuvens
recortadas a luz ardente.
Irremediavelmente, parte.
Sobre a planura as suas asas espraiando
o anjo vigia e guarda.
À noite as águas silenciosas da laguna
reflectem-lhe o dorso, curvado sobre as
árvores frias.
Mãos invisíveis tecem-lhe nos cabelos
segredos antigos
que os homens esqueceram há muito
ou nunca sequer souberam
E parte, por sobre as nuvens
recortadas a luz ardente.
Irremediavelmente, parte.
1 comentário:
Eu, contra mim falando, podia dizer: a atender a este poema, como é possível eu nunca ter ouvido falar desta poetisa? Isto diz da vergonha que é o cenário da divulgação do lirismo actual, da sua colocação nas estantes chilras da Kultura com que se fazem génios administrativamente, os poetinhas em que estais a pensar, e se solapa poesia como a desta Mulher, de tal modo - e não sou dos mais incultos - que só hoje lhe leio os versos.
Sem paninhos quentes: que porra de merda!
(E acho que esta é a maneira mais real e franca que tenho de lhe render homenagem...e quem não perceber é um reles fraldisqueiro).
Maia Carapeto
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