30 junho 2010

Do absurdo e do sinistro



Mais uma vez, num telejornal. Mais uma vez, o espanto. Mais uma vez, se alguma coisa ainda me pudesse espantar neste país.
Numa instituição de ensino pré-escolar. No Restelo. Uma actividade para crianças na média geral dos quatro anos de idade. Um Projecto Pedagógico de Intervenção Paisagística. Objectivo?
Levá-las a saber como plantar flores, arbustos, alfaces... Saber como cuidar daquilo que se plantou, o que fazer, em que devida altura...
Ensinar às crianças tudo isto deveria fazer parte do ensino obrigatório. Ensinavam-no antigamente muitos avós aos seus netos. Muitos pais. Muitos seus familiares. Por acharem que fazia parte do estojo de sobrevivência, por necessidade económica, para alargamento de horizontes e desenvolvimento intelectual, como forma de educação cívica através do trabalho, como forma de abertura à noção de poesia...
Coisas que "as mais avançadas pedagogias" ao serviço do Estado, menosprezaram, no seu incremento e na sua implementação dos novos obscurantismos. Os dos cegos que conduzem outros. Mas, mesmo começando já a haver sinais do início da sua agonia, o ferrete com que distorceram a educação das mais recentes gerações mantém-se nos mais simples aspectos das coisas mais simples.
Projecto Pedagógico de Intervenção Paisagística...! Haverá melhor e maior sinal do carácter medíocre e bimbo, tosco e mistificador, massificador e desumanizante, absurdo e repressor do ensino em Portugal do que ouvir pronunciar o nome desta disciplina pela boca das crianças? O simples nome de uma disciplina escolar basta para que se revele, subtil e sinistramente, o estado a que tudo chegou.

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