08 julho 2009

A servidão do amo


Neste seu post, no Fiel Inimigo, José Gonsalo aponta ironicamente o carácter comprometedor do comportamento dos órgãos de comunicação no "caso Manuel Pinho". Eu, porém, procurarei ir um pouco mais longe, explicitando o que penso que ele quererá dizer com maior minúcia.
A este propósito, desejaria, porém, chamar ainda a atenção para dois posts (os únicos, aliás) publicados num blog de curtíssima duração e de autor ou autores desconhecidos, O Bigode na Sopa (clicar aqui), que neles tratam, com alguma profundidade, o tema da comunicação social em Portugal, a propósito da saída de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI. Pela minha parte, fá-lo-ei sucintamente.
O "caso Manuel Pinho" é, na realidade, um exemplo onde a natureza da comunicação social adjacente ao que impropriamente se chama democracia, bem com as suas relações com o tipo de poder decorrente desta, dão vista a qualquer cego. Bastaria aos órgãos informativos, para que cumprissem o dever a que se proclamam destinados e de que fariam o apostolado - o de esclarecer os cidadãos a quem se dirigem a troco de alguns trocos - , deslocarem-se, como tantas vezes o fazem, desnecessária e até inconvenientemente, aos locais em que existe, em seu entender, "matéria noticiável", para acabar com as dúvidas do país, dos "cidadãos". E, todavia, numa situação que serve de bandeira quer ao governo quer à oposição e na qual se encontra em jogo a situação e o futuro de várias centenas de pessoas nem uma palavra! Nem mesmo quando ela leva à demissão de um ministro por um gesto ordinarote, em resposta às provocações de um deputado, por acaso chefe de uma bancada parlamentar, o qual, se cumprisse o seu dever deveria estar em silêncio, escutando o primeiro-ministro e que, por isso, demonstra possuir um carácter tão ou mais ordinário do que o de Manuel Pinho, a que não falta sequer a atitude de "virgem ofendida".
A "comunicação social" não é, com efeito, nem serva do poder nem a sua dona: ela é a parte mais subtilmente secreta do organismo polifacetado que ele constitui. É porque é pública que se mantém incógnita, é por se apresentar como independente do poder que, protegendo-se e preservando-se, o preserva e o protege. Não é o quarto poder nem o contrapoder, porque é acção decisiva do poder, apresentando-se como um outro organismo, concorrencial. Assim, afasta, pelo silêncio, o essencial do que está em jogo no caso do ministro mal-educado e esmola o mais que pode à conta da lamúria e das considerações sobre as suas consequências. Sempre, claro, de modo a não dar do organismo que é uma imagem de degradação ou de fraqueza, que o poria em perigo. Com maior ou menor consciência das suas células operacionais, os jornalistas.
Voltarei ao assunto proximamente. Hoje, fico-me por aqui.

1 comentário:

RioDoiro disse...

Bernadino-o-farol-em-ética ...

Já nem me lembrava da existência de tal comissão.

Chapelada :-)