11 setembro 2009

Ele voltou


Soneto VIII

Amo-te muito, meu amor, e tanto
que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda
depois de ter-te, meu amor. Não finda
com o próprio amor o amor do teu encanto.

Que encanto é o teu? Se continua enquanto
sofro a traição dos que, viscosos, prendem,
por uma paz da guerra a que se vendem,
a pura liberdade do meu canto,

um cântico da terra e do seu povo,
nesta invenção da humanidade inteira
que a cada instante há que inventar de novo,

tão quase é coisa ou sucessão que passa...
Que encanto é o teu? Deitado à tua beira,
sei que se rasga, eterno, o véu da Graça.

Jorge de Sena, autor deste soneto, um dos mais belos escritos em língua portuguesa, voltou, 30 anos depois de morto, a habitar terra portuguesa. Jorge de Sena, que dizia que o emprego principal dos portugueses, desde o século XVI, era o de exilado.
Morto. Com grande suspiro de alívio para os actuais caciques. Espera-se, assim, os habituais discursos. E um funeralzito de Estado, que cai sempre bem e fica baratucho. Mário Soares há-de lá estar.

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