03 setembro 2010

Ainda a propósito de uma cerimónia muçulmana

Zawahiri e Bin Laden

José Gonsalo inseriu, no Fiel Inimigo, o vídeo Cerimónia em Viena, a partir do post que eu publicara no dia anterior. Hoje, é a minha vez de transcrever aqui um texto seu, resultante de uma reflexão motivada por um comentário a esse mesmo vídeo (clicar aqui, para ver o post e aqui, para ver os comentários ao vídeo).

A Jihad inicia-se após a Hégira, em 625 d.C., e traduz-se, para começar, na conquista pelos exércitos islâmicos, sob comando árabe, do Médio Oriente e do Norte de África. Oitenta e seis anos depois, em 711 d.C., esses exércitos entram na Península Ibérica, dominando-a, na sua quase totalidade, no decurso das duas décadas seguintes, sendo a sua passagem para além dos Pirinéus travada, já em solo Franco, na batalha de Poitiers, em 732 d.C.. Todo este processo, realizado a ferro e fogo dura, pois, cento e sete anos.

Só em 1095, passados mais de três séculos e meio, é que terá lugar a primeira Cruzada, com o intuito de devolver à cristandade o acesso aos lugares santos do Cristianismo, entretanto usurpados pelo Islamismo tanto a cristãos como a judeus. A última delas, a quinta, durará quatro anos, entre 1217 e 1221, e o que resultará do conjunto de todas elas, nesse intervalo de cento e vinte e seis anos, não será sequer o domínio europeu da zona, quanto mais a reconquista da área da África do Norte, toda ela cristã antes da imposição, por via armada, do Islão.

A conquista islâmica dos territórios norte-africanos e europeus nada tem a ver com a devolução do que quer que fosse a que os árabes tivessem direito. Nem mesmo podem alegar, para tal, qualquer ameaça vinda da Europa da época. Os europeus, bárbaros em emergência, ocupados em guerras que definissem os seus novos territórios, decorrentes da derrocada do Império Romano do Ocidente, tinham mais em que pensar do que no Médio Oriente. Os exércitos islâmicos assenhorearam-se, em nome da salvação pela verdadeira religião ou a pretexto dela, do que não era seu. Só não se apoderaram do que, por fim, não lhe permitiram e foi preciso rechaçá-los, numa luta que, no caso ibérico, durou até 1492, isto é, em contas redondas, oito séculos.

Perdidas as veleidades de se tornarem numa outra versão da antiga Roma imperial, unificada, política e administrativamente, pelos princípios do Alcorão, procuraram sufocar a Europa através do impedimento à livre circulação de bens e de ideias existente, desde a Antiguidade, entre o Ocidente e o Oriente, nomeadamente entre a Europa e a Índia, base da fertilidade das civilizações grega e romana e de todas as restantes que se haviam desenvolvido em torno do Mediterrâneo. O seu declínio, comercial e militar, começou, de vez, com a chegada dos portugueses a Calecut e, posteriormente, com o aparecimento e o estabelecimento de holandeses, franceses e ingleses por todo o Oriente.

A partir do século XVIII, com a Revolução Industrial, acentuou-se cada vez mais a decadência de uma civilização em que o saber se tornou prisioneiro das cadeias de uma teologia incomparavelmente mais limitadora do que o Cristianismo alguma vez fora. O desenvolvimento dos conhecimentos técnico-científicos transportou o Ocidente para o plano de uma outra humanidade, enquanto os árabes, excepção feita aos tradicionais tiranetes assassinos com poder de compra que os dominavam, estiolaram entre o cavalo, o camelo e o burro, presos de impérios orientais que se faziam e desfaziam como sempre aconteceu desde há três milénios. Até que, por fim, inevitavelmente, sobretudo a partir do último quartel do século XIX e até ao final da II Guerra Mundial, surgiram os ingleses e os franceses. Era o fracasso final do povo eleito, o povo guiado pela palavra do único Deus, Allah, revelada ao terceiro e, determinadamente, o último dos profetas, Muhammad. O fracasso da tarefa que se propusera a si próprio e em que assentara a sua identidade. Ou reagia, ou estaria condenado para toda Eternidade.

Ao contrário do que é dito no Evangelho, onde a vingança é sinónimo de degradação espiritual, o Alcorão entende-a como legítima sem, no entanto, a definir (o que levanta muitas e interessantes questões). Porém, a vingança, perspecyivada por uma cultura como a árabe, repressiva e agressiva, na qual a dissimulação e hipocrisia são confundidas com uma das quatro virtudes cardeais tradicionais, a Prudência, torna-se no conceito que alimenta, fundamentando-o, um ressentimento venenoso. Esse ressentimento assumirá, assim, para que o povo de Deus não perca a face perante o Criador e alcance o Paraíso, a seguinte forma teológica: os Ocidentais têm por eles as forças do Mal, perdemos esta batalha, mas a força de Allah, que está desde sempre em nós, alcançá-los-á, no final; teremos que o derrotar definitivamente, aos impuros, vencendo-os-os e submetendo-os às leis do Alcorão. A nossa vingança é a vingança de Allah. Utilizaremos os seus conhecimentos contra eles, as forças do Mal virar-se-ão contra ele próprio e assim será destruído.

Este não é, evidentemente, o espírito de todos, senão de uns quantos, que, no entanto, são a parte verdadeiramente activa, como se tem visto. Os restantes oscilam entre um islamismo passivo, mais ou menos consciente de si mesmo, que demonstra esse ressentimento através da resistência “cultural”, encerrando-se, no estrangeiro, em comunidades fechadas e, no seu próprio país, na lei islâmica como fundamento das leis nacionais; e, evidentemente, o islamismo-da-boca-prafora, como plano de defesa de interesses mais ou menos instituídos e confessáveis (no que, aliás, são semelhantes a inúmeros exemplares do mesmo tipo, espalhados pelo planeta, residentes em diferentes religiões e ideologias).

Dizer, pois, como o faz, no seu comentário, um anónimo, que a Jihad constitui o reverso da medalha das Cruzadas, indicia pura ignorância ou cartilha política de conveniência ideológico-partidária, acriticamente papagueada. Porque, atendendo ao que se passou, só a afirmação oposta poderia fazer sentido. As Cruzadas e os Cruzados não foram mais do que a resposta tardia a algo que cujo começo foi da iniciativa e da responsabilidade dos árabes e do “seu” Islão. Dos crimes e das crueldades, ninguém ficaria impune num julgamento imparcial. Trazê-las à baila como argumento revela, da parte dos seus dirigentes, as sinuosidades propagandísticas dos seus planos. Com efeito, se a moral tivesse a ver alguma coisa com os factos que a humanidade produz como história sua, os árabes deveriam, por este motivo, manter-se num silêncio envergonhado, com tanto maior razão para tal quanto a política do punhal fratricida que, desde sempre, inclusive no seu apogeu, grassou entre eles, não desapareceu ou sequer se atenuou.

1 comentário:

Anónimo disse...

Conviria dizer assim aos chamados "esquerdóides" do tipo do Portas (o outro, o careca rápido, o que assim que há violencia islamita vai logo apoiar...na casa deles): o vosso discurso apenas exprime o vosso apoio,dissimulado e até já insolitamente nu, à brutalidade islâmica.
E o resto é conversa.

Paulo Pitarra