19 junho 2009

O estertor e a mão


O sr. secretário de Estado da Educação, dr. Jorge Pedreira, foi hoje o retrato fiel do que aproxima o sr. Primeiro-Ministro do modelo de Presidente do Conselho de Ministros. De uma personagem em que, como no Fado Tropical, de Chico Buarque, a atitude humilde e a voz suave pretendem desviar a atenção da acção das mãos, que se mantêm, enraivecidas, na tarefa a que se propôs desde o início. De alguém que pretende substituir pela manha a inteligência que lhe falta, e, pela força, a ignorância e a inabilidade técnicas para resolver os problemas.
A propósito dos exames do 9º ano realizados durante esta manhã, em resposta às críticas renovadas sobre o gritante facilitismo das provas, o sr. dr. Jorge Pedreira referiu, por um lado, a injustiça de tais apreciações negativas, provenientes já se sabe de quem e, por outro lado, que elas levariam os alunos a não estudar. Ao sr. secretário de Estado bastaria, porém, ouvir conversas de rua entre estudantes para se aperceber de que eles próprios têm consciência e condenam esse facilitismo e que mesmo os mais assumidamente cábulas nutrem desprezo por quem o promove. As opiniões dos alunos que constam das peças informativas transmitidas pelos telejornais à saída dos exames são, aliás, bem claras sobre o assunto.
O sr. secretário desconhece ainda que a insegurança de quem sai das escolas quanto aos conhecimentos que possui tem vindo a tornar-se num traço freudiano das novas gerações de portugueses e, naturalmente, em simultâneo, num escolho da sobrevivência económica, pessoal e do país, que fere e ferirá todos nós demoradamente. Ainda ontem um amigo meu, desde há muitos anos ligado à formação docente, me falava do espanto e da apreensão que sentia perante a falta de preparação científica demonstrada pelas mais recentes fornadas de licenciados e o terror dos mesmos ao serem confrontados com a realidade, transmutado de imediato, como seria de esperar, por quase todos eles em subterfúgios ou arrogância.
Mas a mão continua cegamente na sua acção. A mão que desmente o rosto. A mão que nega as palavras. A mão que reflecte o estertor do cérebro que a comanda.
Pelo menos até às próximas eleições.
E depois?

2 comentários:

Anónimo disse...

Excelente! Excelente este texto que desmascara bem o hipócrita (sim, hipócrita, não disfarcemos as palavras)Sócrates, um caso sério de manha e de maldade a tentar passar por doçura de vendedor de banha da cobra.
E os seus sevidores vão na mesma onda.

O Sócrates é, agora, um caso de divã de analista: parece o célebre conto do João-que-chora e o João-que-ri!
Quem o viu na entrevista da tv, a tentar passar por bom menino, viu um dos espectáculos mais vergonhosos da triste nossa políticas à portuguesa.
Mas a realidade é implacável e diz-nos isto: quando um autoritário começa a fazer rapapés, tentando mudar por se lhe ter gasto o gás, isso significa que está perto do fim.
Que vá para as bem profundas, pois não deixa saudades a não ser aos oportunistas que encouravam à pala da sua estátua de manholas de segunda extracção.
RIP!

Lacerda Machado

confraria_da_alfarroba sociedade de irresponsabilidade e limitada disse...

é facto, o autoritarismo fascista com máscara social democrata está à beira do fim.
que se precipite (rapidamente) nas chamas infernais