Ontem, pelo fim da tarde, conversava eu com um familiar meu, minado pela doença de Alzheimer. Nem sempre reconhece já os netos e, noutro dia, não sabia que casa era aquela, a casa em que vive há mais de quarenta anos.
- Tenho que ir visitar a minha tia M., - diz-me - há muito tempo que não sei nada dela. Vive num lar, sabe disso, não sabe? O marido matou-se, que não aguentava a vida que levava, desde que ela foi para o lar. Coitado! Ai! Mas faz-me uma impressão ir lá vê-la...! Aquilo faz-me uma impressão...! Não conhece ninguém! Mas, a mim, parece que ainda me vai conhecendo. Quando cheguei ao pé dela, disse-me: "Vens buscar-me, vens buscar-me?". Coitada! Acho que ninguém merece isto, estas coisas assim, acho que ninguém merece.
E todo o silêncio do mundo veio ter comigo.
2 comentários:
Se deus existisse não deixava que um ser humano ficasse assim degradado.
Existindo, é o mesmo. Pelas canalhices dos seus fiéis se vê o andar da carrugem.
Ele pode limpar as mãos à parede.
Se não forem os médicos a resolver, humildemente à humana...o troca-tintas não faz nada. É só rezas que ele quer. Deusote medíocre comós padrecas que lhe fazem a publicidade.
Tapiz
Duro.
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