06 maio 2010

Do silêncio


Ontem, pelo fim da tarde, conversava eu com um familiar meu, minado pela doença de Alzheimer. Nem sempre reconhece já os netos e, noutro dia, não sabia que casa era aquela, a casa em que vive há mais de quarenta anos.
- Tenho que ir visitar a minha tia M., - diz-me - há muito tempo que não sei nada dela. Vive num lar, sabe disso, não sabe? O marido matou-se, que não aguentava a vida que levava, desde que ela foi para o lar. Coitado! Ai! Mas faz-me uma impressão ir lá vê-la...! Aquilo faz-me uma impressão...! Não conhece ninguém! Mas, a mim, parece que ainda me vai conhecendo. Quando cheguei ao pé dela, disse-me: "Vens buscar-me, vens buscar-me?". Coitada! Acho que ninguém merece isto, estas coisas assim, acho que ninguém merece.
E todo o silêncio do mundo veio ter comigo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Se deus existisse não deixava que um ser humano ficasse assim degradado.
Existindo, é o mesmo. Pelas canalhices dos seus fiéis se vê o andar da carrugem.
Ele pode limpar as mãos à parede.
Se não forem os médicos a resolver, humildemente à humana...o troca-tintas não faz nada. É só rezas que ele quer. Deusote medíocre comós padrecas que lhe fazem a publicidade.

Tapiz

RioD'oiro disse...

Duro.