O texto de Rui Tavares, que se pode encontrar na contracapa do PÚBLICO de hoje, é, quanto a mim, exemplar. Ora leiam:
Chorai, elites
Em geral, as elites portuguesas não se distinguem por nada que tenham feito. Não têm o hábito de se elevar e, em consequência, resta-lhes empurrar o povo para baixo quando ele se chega muito perto. Vejamos, a título de exemplo, as célebres elites do PSD. (...)
Diz-se que as elites do PSD perderam por falta de comparência ou por acharem que tinham o partido na mão. Ambas as explicações significam isto: as elites do PSD, no fundo, não são tão elites quanto isso. Na tradição nacional, sempre esperaram que o seu lugar lhes fosse guardado e cedido: no conselho de administração como no conselho de ministros. Nos intervalos do poder, escolhiam um caseiro para tomar conta do partido. Da mesma forma, estes legítimos representantes da respeitabilidade cavaquista continuam a achar que o PSD tem de ter lugar cativo na sociedade prtuguesa, apenas porque sim. Sempre desprezaram a ideologia a favor de um suposto monopólio do "saber governar". Fizeram o elogio dos self-made men para depois os acusar de populismo. Fugiram das causas sociais e avisaram o seu povo para se manter afastado do "politicamente correcto". Repetiram durante anos que a iniciativa pública é incompetente e a iniciativa privada, virtuosa. Lembraram que, se fizermos tudo para beneficiar os investidores e os empresários, o dinamismo do mercado se encarregará de todos. Riram das graçolas de Alberto João Jardim e apresentaram-no como bom exemplo. Aliaram-se a Paulo Portas para governar o país. Chegaram a eleger Santana Lopes, não em directas, mas em Conselho Nacional. E agora choram: mas este foi o partido que eles fizeram.
2 comentários:
Brilhante!
Muito bom.
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