"Deus não outorga a Sua guia a gentes que deliberadamente fazem o mal" (Corão 9:109)
Este foi um dos versículos do corão utilizados na fatwa contra Osama bin Laden e a Al Qaeda, emitida pela Comissão Islâmica de Espanha (CIE), no primeiro aniversário dos atentados terroristas de Madrid, em Março de 2005. Pela primeira vez um decreto religioso islâmico bania do Islão todos os que justificam o terrorismo com base no livro sagrado, negando a condição de muçulmanos aos seguidores do príncipe saudita. O inédito decreto adquiriu especial relevância por ser emitido pela CIE, o órgão máximo das 294 associações de muçulmanos inscritas no Ministério da Justiça espanhol. A notícia depressa se espalhou pelos meios de comunicação internacionais, como os jornais "Libération", "The New York Times", ou cadeias de televisão CNN e AL-Jazeera. Numerosas entidades muçulmanas e não muçulmanas estimaram que se as comunidades islâmicas sedeadas nos EUA tivessem emitido uma fatwa idêntica, a seguir aos atentados do 11 de Setembro, o mundo seria hoje um lugar melhor. O documento foi redigido e assinado pelo secretário geral da CIE, Mansur Escudero, um psiquiatra de profissão, com 59 anos [nascido no meio de uma família muito católica]. (...)
Além da contestação às intenções da JI na imprensa e na blogosfera mais conservadora, Mansur e a sua comunidade foram considerados "infiéis" pela Al Qaeda ao emitirem a fatwa contra o terrorismo. Por outro lado, recebem ameaças por telefone e por correio electrónico, que Mansur supõe virem de "organizações ultra-católicas". "Dizem que somos mouros invasores, os submarinos dos países islâmicos e para nos irmos embora do país! Como se não fôssemos espanhóis!", argumenta Mansur. Hoje a sua casa está equipada com sistema de segurança e os seus telefones sob escuta da polícia para sua protecção.
Porém, Mansur vacila quando a primeira das suas mulheres [de casamento não islâmico], Sabora, recebia 30 facadas na sua casa de Almodôvar, em Outubro de 1998. "Matei a tua mulher!", disse-lhe o assassino antes de se entregar à polícia. O jovem tinha 18 anos, vivia na vila, e era "membro de uma confraria" recorda, "mas nunca dissemos que era um fundamentalista cristão". O processo foi arquivado, e o agressor morreu na prisão ao cair por umas escadas, segundo Mansur no dia em que ia declarar sobre possíveis cúmplices.
Apesar disso, o presidente de Junta Islâmica nunca recusou pontes com a sociedade ocidental e cristã que a rodeia. É exemplo o convite recebido, enquanto secretário geral da CIE, para a boda real do príncipe de Filipe de Bourbon com Letízia Ortiz. Ou a carta em papel timbrado da Casa Branca, com a assinatura do presidente dos Estados Unidos da América, em que George Bush lhe agradece a "promoção de uma mensagem de paz" e destaca a importância da fatwa anti-terrrista para que "outros muçulmanos levantem as suas vozes para condenar a violência".
Destaco ainda do mesmo artigo que Hashim Cabrera, pertencente à mesma Junta, "autor de vários livros sobre o islão contemporâneo (...), confrontado com o tema do terrorismo diz que "matar civis" ou !maltrar mulheres" são práticas condenadas pelo Corão, que o Islão é uma forma de vida e que a sua conversão em religião é o "princípio da sua decadência".
Do mesmo modo, acrescento eu, que o que respeita ao cristianismo e ao judaísmo.
8 comentários:
""Deus não outorga a Sua guia a gentes que deliberadamente fazem o mal" (Corão 9:109)"
Mas que mal há em decapitar hereges ou desfazer à bomba quem insiste em ouvir música?
O mundo fica muito mais asseado e a pureza do silêncio permite que as preces a Alá atinjam o infinito ...
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Muito interessante.
Embora, me pareça que esses muçulmanos espanhóis não vão longe... serão agentes da CIA??
É preciso ter em conta o ser humano.. o ser humano não é bem em códigos de conduta que está interessado... Cumprir o código para quê?
Mas do Corão e da Bíblia podem de facto ser extraidos códigos de conduta visando o bem da sociedade e do ser humano, sem nenhuma implicação religiosa ... mas quem é capaz de perceber isso tb não precisa desses ensinamentos...
As interpretações que os lideres religiosos fazem visam sempre os objectivos que têm para o seu povo, é para isso que as religiões servem, para gerir os povos; uma mudança de interpretaçao significa uma mudança de orientação por se ter tornado mais conveniente no quadro actual
A interpretação do versículo depende do conceito de mal. E uns aninhos atrás lembro-me de protestantes quase a serem lapidados ali perto de Castanheir de Pêra, só porque não eram católicos. Matarruano é matarruano em todó lado!
Range-o-Dente, o que nos permitiu tornarmo-nos no que somos foram os factores que levaram à independência dos Estados Unidos e o que se lhe seguiu. Éramos antes e fomos depois, ainda durante muito tempo, iguaizinhos a eles! Eles tiveram o azar, por razões históricas, de não terem nada parecido com isso! É o drama deles... e o nosso! Que a coisa está muito complicada!
Confundir, porém, o Islão com a acção política que diz apoiar-se nele é o mesmo que confundir o atomismo científico com a bomba nuclear.
A mudança não pode ser exterior ao próprio islamismo, tem que ser interior, "ideológica", e os gajos que tentam fazê-lo têm a garganta a prémio. E nem sempre se arrisca com proveito. Com o cristianismo aconteceu exactamente o mesmo.
A nossa atitude tem que ser firme, mas essa firmeza tem obrigatória e necessariamente que ter por base o conhecimento profundo dos dados da situação, senão a emenda será pior do que o soneto.
Muito bem observado, Alf!
Responderei melhor daqui a bocado ou na quarta-feira.
"Éramos antes e fomos depois, ainda durante muito tempo, iguaizinhos a eles! Eles tiveram o azar, por razões históricas, de não terem nada parecido com isso! É o drama deles... e o nosso! Que a coisa está muito complicada!
Confundir, porém, o Islão com a acção política que diz apoiar-se nele é o mesmo que confundir o atomismo científico com a bomba nuclear."
Mas não há confisão do lado 'deles'. O Islão e a acção política são uma e a mesma coisa. Estamos a falar de acção política dentro e fora das portas 'deles'.
Estamos a falar na 'nossa' avaliação de um texto que 'eles' consideram serem os únicos capazes de avaliar.
Pois eu acho que o Joaquim Simóes tem razão. Mas essa razão não se aplica à jurisdição em causa.
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Talvez este artigo lance alguma luz ao assunto:
http://www.telegraph.co.uk/news/main.jhtml?xml=/news/2007/01/21/nhate21.xml
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Terceira tentativa ...
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Raios partam o link:
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