Passou, há pouco, no telejornal da SIC, uma notícia que, enquanto português, me encheu de satisfação e de orgulho. Tal como pudemos ouver na peça jornalística, no Parque Biológico de Gaia, uma lontra bébé vive, desde o seu nascimento, há seis meses, dentro da casa de banho destinada a quem tem deficiências físicas, por inexistência de estruturas que a acomodem. Enorme exemplo de grandeza de alma, este!
A solução poderá passar por enviá-la para Espanha, logo que atinja a maioridade, quer dizer, logo que saiba caçar e prover autonomamente à sua existência, disse-se ainda. Pelo que agradeço desde já, em nome de toda a nação, aos nossos irmãos do outro lado da fronteira a hospitalidade demonstrada. E prometo, se tal estiver ao meu alcance, pagar-lhes com uma barrigada de riso, pedindo ao primeiro-ministro que faça aquele seu número apalhaçado do discurso para espanhóis, durante a passagem de tutoria do animal - ele é lá capaz de desperdiçar uma ocasião dessas, só para relembrar a importância do TGV...!
Suponho, além disso, que as autoridades nacionais estarão, como sempre, alerta e vigilantes, não permitindo o incentivo ou o desenvolvimento de perversas e antinaturais tendências pedófilas e zoófilas entre a sã população lusa, logo interditando a utilização das referidas instalações a quem visite o Parque. E que, assim, dando, desta maneira, um sinal da inexistência de indícios de perigo de extinção real dos deficientes portugueses, os devolvam à natureza no que há de mais simples, que é a satisfação de se aliviarem, ecologicamente, em pleno Parque, atrás das árvores, dos arbustos, ou até mesmo, como acontece, frequente e nem sempre discretamente, na selva urbana, dos bancos de jardim ou numa qualquer esquina ou recanto escondido.
Os cidadãos nacionais portadores de (os que carregam a) deficência, que fiquem, além e apesar disso, satisfeitos pela generosidade que demonstraram, albergando maternalmente a lontra, que ganhem ânimo ao saberem que todos temos os olhos postos neles, que são cidadãos úteis, para o país e para o planeta. Assim, quando virmos um nosso compatriota mijando envergonhadamente num canto qualquer, portugueses!, tragamo-lo para a luz e façamo-lo mijar orgulhosamente, com um repuxo maior do que o do menino de Bruxelas, do tamanho da homenagem que se pode fazer ao dever cumprido!
E ao enorme orgulho de se ser português no ano da Graça de 2010!
3 comentários:
Infelizmente já nada me espanta, amigo Joaquim Simões...
Aconselho colegas a andarem munidos de sondas bem cumpridas, assim o repuxo será maior que o do menino de Bruxelas.
Fique bem.
Que coisa....Inominavel!
Que coisa ridicula, parva, anormal...grrrrrr...
beijos
Um enorme e apurado senso de humor, uma capacidade de fazer rodopiar as palavras, em frases certeiras, que não é vulgar no mundo das crónicas blogueiras e mesmo jornalísticas por extenso.
Digamos, com fraternal ironia, que dá vontade de mijar em cima das carrancas governamentais ou do duvidoso bosque dos mandantes!
Desalípio Desabranhos
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