09 julho 2007

Três histórias de pura ficção

Cândido da Costa Pinto

Comecemos por imaginar a possibilidade de uma história destas acontecer numa escola secundária:
Um dia, o Conselho Executivo é surpreendido pela chegada, sem aviso prévio, de um grupo de inspectores. Estes, porém, tranquilizam desde logo toda a gente: trata-se de uma visita integrada na formação de inspectores estagiários e nada mais, pelo que não haverá qualquer avaliação oficial seja do que ou de quem seja. Nada de anormal tendo sido detectado ao nível administrativo ou da documentação pedagógica, solicitam, de seguida, permissão para assistirem a uma aula de um docente, a designar pelos próprios órgãos directivos da escola, os quais indicam, compreensivelmente, um professor de comprovada competência científica e sucesso pedagógico.
Este inicia a aula como de costume e tudo decorre normalmente. A certa altura, porém, começa a ouvir-se um zunzum estranho, que vai aumentando a pouco e pouco, levando-o a suspender por momentos a leccionação e a comentar: “Vocês hoje estão muito irrequietos…!” Para seu espanto, é o orientador de estágio dos inspectores a pedir desculpa, lá do fundo da sala, pelo facto de estarem a conversar e, assim, a perturbar o bom funcionamento da aula.
Contudo, o mais absurdo há-de vir depois, quando a escola toma conhecimento do relatório feito pelo grupo de estágio. Nele se pode ler, em apreciação à referida aula, que esta não decorrera bem… por o professor ser demasiado directivo! Conhecedor da situação, o Conselho Executivo protesta, mas o relatório nunca virá a ser alterado.
Imaginemos ainda esta outra, a de um inspector que, depois de nada ter detectado ao nível da documentação pedagógica, mas que encontrou uma falha em dois sumários escritos no livro de ponto, chama a atenção do correspondente professor, afirmando categoricamente que o sumário é talvez o instrumento mais importante de uma aula.
Para terminar, suponhamos a possibilidade de, em consequência do novo Estatuto da Carreira Docente, um professor de reduzida competência pedagógica e que já recebeu queixas de pais e alunos, vir a ser promovido a titular, mercê da antiguidade e dos pontos acumulados em diversas funções que desempenhou. Esse professor, que todos conhecem na escola pelo seu carácter vingativo e dissimulado, passará a ter a seu cargo, entre outras, a tarefa de avaliar pedagogicamente colegas que o criticaram ou que simplesmente inviabilizaram as suas opções, mais ou menos disparatadas.
Poder-se-á dizer que isto é pura ficção. Mas… e se vier a acontecer? Para onde iria o ensino em Portugal? E o que dizer da sociedade portuguesa e dos seus dirigentes políticos?

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