Rafael, S. Jorge e o Dragão
Quando um conjunto de militares derrubou o velho Estado Novo, havia já, pelo menos, duas dezenas de anos que o seu mentor e os respectivos apoiantes tinham perdido qualquer crédito junto da população. Por todo o lado se segredava anedotas amargas e ridicularizadoras de um regime e respectivos dirigentes manifestamente corruptos e bacocos. Bastou um sopro para que toda uma estrutura com fundamentos definitiva e claramente apodrecidos, caísse sem quase haver estrondo por não haver gente disposta a ampará-la.
Trinta e cinco anos depois dessa data, o regime democrático, palco de luta pelo poder das organizações políticas entretanto surgidas, só não sofre o mesmo destino daquele que o precedeu porque estamos na União Europeia. O descrédito é total, a vida política considerada como uma mera farsa de interesses obscuros, o salve-se quem puder o espírito dominante. Portugal e os portugueses não se curaram de Salazar e recaem diariamente na descrença e no cinismo. Agonizam.
Helder Macedo, o primeiro ministro da Cultura que houve no país, durante o governo transitório de Maria de Lurdes Pintasilgo, em 1979, dizia hoje (e eu concordo com ele) que Portugal foi um país racional, pragmático e mesmo, sob certos aspectos, na vanguarda da Europa até ao sebastianismo.
Está na hora de chamar D. Dinis e o Príncipe Perfeito. E sem nevoeiro nem outros efeitos especiais. É que a coisa é mesmo de vida ou de morte.
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