23 novembro 2009

Sinais repetidos de um futuro anunciado


Portugal é, felizmente, um país onde, ao contrário do que se passa na Europa mais a norte, macambúzia e monótona, ainda se vive a vitalidade e as possibilidades da rua e onde a defesa da tradição e do património constituem ponto de honra para os cidadãos. Pelo menos a julgar pelos telejornais.
Noutro dia, era um alegre varredor camarário que dava conta da sua satisfação em retirar do chão e de cima das flores dos canteiros que ficam junto ao Centro de Saúde e ao lado de uma escola básica da Venda Nova, freguesia da ex-Porcalhota, actual Amadora, inúmeras máscaras azul-bébé, preventivas da gripe porcina, para ali atiradas pelos foliões depois da consulta. Espontânea, reveladora do carácter profundo dos seus habitantes e do nível de enraizamento das convicções e hábitos que terão dado o antigo nome ao lugar, esta iniciativa da comunidade vendanovense merece os maiores aplausos.
É do mesmo modo notável a franqueza e a limpidez de carácter dos portugueses, bem como a sua inigualável capacidade de simplificar, reciclar e improvisar procedimentos que, noutros países europeus, supostamente mais cívicos e democráticos, se revelam desnecessariamente complexos e excessivamente escrupulosos. A presença, noticiada ontem, de documentos jurídicos tão diversos como, entre outros, escrituras contendo nomes, moradas, números de telefone e de contas bancárias, folhas com elementos de processos e até mesmo uma disquete contendo um processo inteirinho, num contentor de lixo, na capital, revelada por uma subtil dispersão de uns quantos pelo passeio adjacente, mostram a que ponto somos capazes de inovar com base na tradição, optimizando o aproveitamento e o uso de recursos, a bem de uma superior funcionalidade e eficácia da administração pública e da justiça.
"Portugal, país do futuro" é um slogan a promover, justificada e rapidamente. É que anda por aí muita gente esquecida...!
Adenda, algumas horas depois:
Na minha caixa de correio não-electrónico encontrei um prospecto que publicita a realização de uma excursão com a duração de um dia, patrocinada pela Franis Lda., empresa cuja existência desconhecia até há minutos. A excursão, além de um pequeno almoço acompanhado de uma «amena demonstração comercial» e de um «almoço típico de Natal», inclui ainda um «espectáculo musical humorístico com "Ti Maria da Peida" que arrasta multidões e que marca a diferença pela alegria e boa disposição. É DE CHORAR A RIR.» (reproduzo o texto na íntegra, cores incluídas).
Aqui fica, portanto, esta nota, para o caso de alguém desejar juntar-se a tão incomparável manifestação do mais profundo e genuíno espírito nacional.

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