08 novembro 2010

A propósito do post anterior...


... refiro aqui o que foi dito no Jumento dias atrás, algo de que virei também a tratar, logo que possa:

Seria impossível a um candidato à Presidência da República criar um ambiente de crise nacional, reunir um Conselho de Estado e levar todas as televisões a interromper as programações para perante um país expectante dirigirem-se a todos os eleitores. Como vimos ontem isso não é totalmente impossível, se o candidato a Presidente for o próprio Presidente da República.

Aquilo a que os portugueses assistiram ontem foi a propaganda pessoal de um candidato que já não tem capacidade para elaborar o discurso e que mesmo sabendo que já havia acordo entre o governo e o PSD insistiu em ler um discurso que aparentemente já estava escrito ainda antes de se realizar a reunião do Conselho de Estado. Como alguém estragou a festa a Cavaco Silva que não teve a possibilidade de apresentar o acordo orçamental como troféu eleitoral na apresentação da recandidatura, restou-lhe dramatizar a situação, reuniu o Conselho de Estado para poder ter direito a um tempo de antena extra.

Quem ouviu a sua intervenção quando apresentou a sua recandidatura percebeu que estava perante a continuação do discurso anterior, o capítulo relativo ao acordo orçamental que constaria no discurso da terça-feira deu lugar a um capítulo dramático lido três dias depois. Cavaco reúne o Conselho de Estado e dirige-se ao país sem fazer referência a uma única conclusão ou reflexão da reunião a que a comunicação dizia respeita, assistimos à continuação do “eu isto” e “eu aquilo” que todos tinham ouvido dias nates.

Vejamos para que serviu a Cavaco Silva reunir o Conselho de Estado:

“Reuni hoje o Conselho de Estado”, “Decidi convocar o Conselho de Estado”, Esta situação resulta de um problema para o qual venho alertando”, “Conheço de perto as dificuldades”, “Por isso, acompanho atentamente, há vários meses”, “Em face disso, reuni de imediato com os partidos políticos”, “A todos alertei para as graves consequências de uma crise política”, “Referi também aos partidos”, “Decidi de imediato ouvir os membros do Conselho de Estado”, “Enquanto Presidente da República, tenho a obrigação de voltar a dizer”, “Confio no sentido de responsabilidade do Governo e da oposição”.

Isto é, eu, eu e mais eu, nem uma única frase que nos faça acreditar que o discurso não estava escrito antes da reunião do Conselho de Estado que nos permita acreditar que um Presidente da República não tenha usado o órgão institucional para promover uma encenação que lhe permitiu continuar três dias depois o discurso de recandidatura.

Ainda por cima muitos portugueses terão ficado atónitos perante um discurso dramático quando toda a comunicação social já tinha noticiado o acordo entre o governo e o PSD. É evidente que Cavaco não teve tempo de reunir com os seus assessores durante a reunião do Conselho de Estado e nenhum lhe sugeriu que o discurso que estava preparado já não fazia sentido porque enquanto a reunião decorria tinha sido divulgado o acordo orçamental.

É provável que alguém tão egocêntrico tenha pouca consideração pela inteligência dos portugueses e insistido num tempo de antena que estava minuciosamente preparado e já com os figurantes do Conselho de Estado a dispersar. Ou então as capacidades intelectuais do Presidente da República já não chegam para fazer uma intervenção espontânea ou, pior ainda, para ter a noção da realidade, ainda por cima o ddiscurso já estava pronto para ser colocado online no site da Presidência, só faltavam as fotografias oficiais para proceder à actualização da página.

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