Ao qual contrapus o que se segue:
"Caro Nuno Alves Pereira:
Se por acaso tem passado pelo meu blog e lido os textos que escrevi até à data, penso que não lhe restará qualquer dúvida quanto à minha posição relativamente ao que o Islão representa no mundo actual e à ameaça que ele constitui para a humanidade. Porque é um texto susceptível de interpretações perigosas para todos nós, inclusive para os verdadeiros crentes. Ao contrário do cristianismo, que tem vindo a depurar-se, lentamente e aos solavancos em zig-zag, dos ferra-braz que o utilizaram e continuam a procurar utilizá-lo, o islamismo tem reforçado, com ou sem verdadeiras razões, o lado matarruano do mundo. E isto porque o próprio texto, repito, o permite, num grau superior ao que é possível fazê-lo com os Evangelhos, muito mais claros e taxativos na explicitação dos seus princípios, permitindo uma maior e livre contestação das posições das hierarquias superiores. Basta, para o comprovar, realizar um verdadeiro estudo comparado das histórias internas do Cristianismo e do Islamismo.
Deixando de lado estes assuntos, porém, julgo que o Nuno Alves Pereira comete um erro próximo do mesmo tipo que pretende repudiar com o seu comentário. Quando Fernando Pessoa afirma que os Árabes civilizaram a Península não quer com isso dizer mais do que aquilo que quer significar ao afirmar, noutro passo, que o grande inimigo de Portugal é a França. De outra maneira: a França, a cultura francesa, não possui a experiência interior profunda e a riqueza que foram trazidas à Península pela influência cultural e religiosa de povos do Médio Oriente que nela se integraram, passando a fazer parte de uma subtileza de alma que não se encontra nos povos do centro da Europa, de raiz românica e bárbara. Ao tornar-se dominante, por motivos de ordem histórica, essa cultura centro europeia aspira a abafar tudo o que não seja ela própria como forma de dominar efectivamente, o que só se consegue, como é sabido, moldando as mentalidades à medida do que é necessário ao dominador. A concepção de racionalidade que desembocará no Iluminismo do século XVIII tem como base ser a razão o instrumento e a medida do que deve ser considerado válido, verdadeiro: a razão interpretada desse modo auto-avalia-se como o único instrumento de descoberta e determinação do real; o que cai fora desse conceito de razão não pode ser considerado racional, logo, real. Trata-se de um argumento circular, popularmente conhecido como o argumento da "pescadinha de rabo na boca". Este cartesianismo, que extravasa o próprio Descartes, está na origem da autojustificação que a si mesmos deram as elites, regimes e sistemas políticos europeus dominantes desde os meados desse século até aos nossos dias (até ao século XVII, quando se falava em cultura, falava-se em Península Ibérica)
Pessoa compreendia isto muito bem, daí considerar a França como o inimigo por excelência do modo de estar português, resultante de uma vivência dispersa -frequentemente demasiado dispersa- e de carácter ecuménico, se assim podemos dizer, no sentido que Agostinho da Silva dá ao termo. E daí também que considerasse os Árabes como civilizadores dos portugueses, enquanto essa herança nos distingue dos restantes que connosco partilham e são provenientes do tronco comum romano. Com todas as consequências, positivas e negativas, que tal acarretou e acarreta -e aqui chamo de novo a atenção para Agostinho da Silva.
Falar de poesia islâmica ibérica, divulgá-la, não é, pois, fazer a apologia do que se passa no islamismo actual nem no Islão, mas simplesmente olharmos para nós mesmos e vermo-nos integral e dignamente. O resto é atraiçoarmo-nos e perdermo-nos nos meandros em que nos querem encerrar. Seria, isso sim, cedermos à tirania dos que atraiçoam toda e qualquer religião ou sistema de pensamento."
1 comentário:
Apenas uma achega: Fernando Pessoa afirma, o que afirma, numa época em que o regime (dito estado novo) procurava impor a sua "visão histórica"... "Mouros" passa a ter um sentido altamente depreciativo e, ainda hoje prevalece a "provocação" de que a sul de Coimbra somos todos mouros... outros ditos insultuosos provenientes dessa mentalidade acalentada pelo "botas" diz: "alentejanos, algarvios, ilhéus e cães de caça é tudo a mesma raça".
Nada tenho a ver com este tipo de provocações - considero (apenas) que há que separar as 2 águas. Uma é o legado cultural de um povo, outra é o comportamento actual dos seus lideres religiosos que provocam e fomentam ódios contra aqueles a quem chamam infiéis - nada de novo...
Os cristãos também queimaram infiéis... Outros infiéis.
Mais:... Jamais poderei estar a favor do islamismo. Até porque sou ateu confesso, gosto de carne de porco e de enchidos e, sobretudo, de bom vinho. Com estes 3 ou 4 comportamentos pecaminosos sou um bom candidato a morrer à pedrada em nome de um qualquer deus vingativo (todos(?)).
Vai para uns anos bons, debati-me contra as diversas seitas que defendiam "a arte ao serviço do povo" e outras balelas. Hoje não estou disponível, mesmo, para me debater com nenhum tipo de fundamentalismo - seja religioso ou político. Não, não tenho partido nem tomo. Recuso - a bem da minha saúde mental.
Editor da "república das santas bicicletas"
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