27 janeiro 2011

Ainda na continuação da recuperação da gripe...


... faço, agora, uma referência a uma colecção, Frente&Costas, iniciada, em Outubro do ano passado, com um pequeno volume de Manuel de Almeida e Sousa.
O livro inclui, de um lado poemas visuais, feitos da combinação entre fotografias e o resultado da acção autónoma de um velho MacIntosh, conhecedor, de há muitos anos, como qualquer animal doméstico, dos caminhos de quem o conduz. Do outro, um texto teatral desconstrutor do discurso resultante do conjunto formado pelas pulsões e pela lógica, libertando a voz para uma expressão mais próxima do que poderia designar-se como música primeira a que o corpo se molda, moldando-a. A ordem da leitura do conjunto é, naturalmente, arbitrária.
Na República das Santas Bicicletas (ver o Miradouro) poderá ser encontrada mais informação.
Na badana, encontrarão um texto que me foi pedido, referente à colecção, o qual transcrevo de seguida (porque, por hoje, não consigo melhor do que isto):

«O visível surge do invisível e existe neste e por este. O invisível, por seu turno, existe no visível, alimenta-se dele. Se tudo fosse visível, não poderíamos falar em visível; se tudo fosse invisível, nada haveria que fosse algo para si.
O visível é a forma de consciência do Todo, que, por isso, não é visível nem invisível. Assim, o visível procura encontrar-se no invisível; o invisível, esse é a própria vida do visível. O Universo anima-se pelo que está para além dele.
Uma escultura vive na consciência de quem, vendo-a, a constrói pelas partes visíveis do seu todo, que lhe é invisível. A escultura existe do visível no invisível da consciência. A escultura vive em nós, que, de uns para os outros e com os outros, nos tornamos visíveis, aos poucos, do invisível de que nos formamos.
A linguagem fala pelo silêncio e do silêncio que a permite. Aponta, une, relaciona, descreve, desdobra-se e aponta para si mesma no não-dito.
As costas sugerem a frente, exigem-na; a frente faz suspeitar das costas, procurá-las. No perfil está e não está tudo, vê-se e não se vê tudo.
Esta colecção faz-se perfil na sua orientação gráfica. No resto é Frente e Costas, Frente e Costas, Frente e Costas… Como todos nós.»


1 comentário:

confraria_da_alfarroba sociedade de irresponsabilidade e limitada disse...

mas que lindo livrinho!... até parece que o conheço - será de ou da vista?