17 janeiro 2011

Ars Magna, segundo Nicolau Saião

Ars Magna

ARS MAGNA

A arte

contemporânea – ou seja, a que com independência

de espírito se estabelece como tal - tem

o selo de quem ama de facto os traços, as cores e as

inflexões matéricas que nela se contêm

e, por isso, os cria fogosa ou serenamente.

(Aqui um esboço

de Beckman ou

de Lyle Carbajal ou mesmo

uma aguarela incompleta de Cézanne

ou até uma folha semi-queimada

semi-rasgada de Wolfli, o que no seu

quarto do manicómio onde residiu uma vintena

de anos, acendia velas de estearina a Santa Realidade

que para ele

era a enfermeira que o amparava no seu desgosto).

Esses que a fazem

por um imperativo da força que lhes sai do corpo

e da sua organização em ossos e pele,

músculos, cartilagens e sentimentos – e que depois

cristaliza em quadros, peças escultóricas

e elementos mistos - sabem que isso em seguida

se repercute em nós e faz nascer

outras cores e traços e substâncias

vitais rodeados de palavras e de realidades

por vezes raras e acrescentadas. Coisas

que umas vezes em cima outra vezes em baixo

do mundo que as fundamenta

são como um rosto convulso

ou inteiramente apaziguado

entre as mãos de quem rememora

o tempo vivo e desfeito.

in Escrita e o seu contrário

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