21 janeiro 2011

A propósito de um comentário ao post anterior


Caro amsf:

No dia 17 do mês passado, um amigo enviou-me um link que remetia para um blogue, o qual, a partir desse dia e até hoje, tem ocupado um lugar no meu Miradouro. Refiro-me a O Candidato Certo, onde, em jeito de paródia séria, se apelava a um movimento de cidadãos em torno do actor e apresentador de um concurso da RTP1 Fernando Mendes, no sentido de o convencer a candidatar-se à Presidência da República. Os motivos encontrar-se-iam suficientemente expostos no texto do Manifesto que abria o blogue bem como num segundo texto, da autoria de um - no caso, uma - dos signatários.
As razões que me levaram a divulgá-lo têm a ver com a minha própria posição relativamente aos candidatos que se apresentaram a estas eleições: a de uma enorme repulsa pelo estado a que chegou a democracia em Portugal, pelo espectáculo degradante que todos eles - de uma ou de outra maneira e por uns ou outros motivos - representam e pelo sinistro jogo das forças que se movem no terreno da República. E isso inclui o senhor Coelho.
Porque nenhum candidato sério, a meu ver, se limitaria ao modo como age nem àquilo que diz (ao nível do que há de mais básico e de mais redutor), confundindo ironia e sarcasmo com actuação apalhaçada, no que se coloca ao mesmo nível da indignidade daquilo que afirma combater. É que dentada de cão não se cura com o pêlo do mesmo cão, como muitos pretendem. As ironias de Eça e de Ramalho, sendo ferozmente demolidoras, foram também eficazes por se situarem num plano de superioridade intelectual e moral neutralizador de quem pretendesse ignorá-los; um bufão, porém, apenas acrescenta mais bufonaria à bufonaria reinante.
É a minha perspectiva, evidentemente, e vale como tal. Mas, já agora, deixo-lhe aqui, caso não haja lido, parte do manifesto e o texto que referi do tal blogue. E divirta-se. E aplauda ou rejeite, conforme aprouver ao juízo que deles faça.

1. Por Portugal! - Manifesto em torno da proposta de uma candidatura

Os signatários do manifesto que serve de apresentação e justificação à abertura deste blogue, têm consciência de serem apenas três de uma multidão de portuguesas e portugueses, preocupada com o estado de pré-calamidade - económica, social e política - a que o país foi remetido, neste final da primeira década do século XXI. E que, na iminência de mais um acto eleitoral, de cujo desfecho resultará a atribuição da Presidência da República a um dos nossos compatriotas, face ao perfil apresentado por aqueles que se declararam e apresentaram já como candidatos ao desempenho do cargo, decidiram apelar a uma outra figura pública que igualmente o faça, por a considerarem mais apta para tal do que qualquer dos restantes. Crentes em que a alma portuguesa se unirá e mobilizará em torno de uma candidatura que por inteiro traduza os seus anseios e aspirações, numa onda magnífica.


Os signatários estão convictos de que, tal como eles, o povo português não se reconhece em alguém como o Professor Cavaco Silva que, pese embora os seus méritos, alcançou as fronteiras do ridículo ao espraiar-se no lamentável, quando preencheu o seu discurso de recandidatura com queixas ao povo do tipo cançoneteiro “Vocês sabem lá…!”, em referência às passinhas vivas de Boliqueime que terá tido que engolir com “aqueles” malandros dos partidos. Às baboseiras que, condescendente e pacientemente, terá tido que ouvir; às discordâncias com a sua visão, especializada e experiente, que terá tido que suportar; aos serões em que, impaciente e pesaroso, terá tido que perder o episódio da telenovela, para ajudar a fazer acordos entre os galfarros que mandam na capoeira a que chamam Assembleia da República! Ninguém acredita na boa-vontade de alguém que se ergue em tanta lamúria, para poder continuar a lamuriar-se pelo sacrifício em que se oferece à Nação.


Nem que se reconheça no odor a verde-pinho com que o dr. Manuel Alegre pretende refrescar o hálito, carregado de miasmas libertados pelos microrganismos acumulados nas reviravoltas que deu à língua e pelo excesso de uso que deu à glote. Tudo para provar que está vivo, porque é assim que pensa poder prová-lo. E o povo português, que é “justo, solidário e fraterno”, não o será tanto, porém, que se arrisque a que ele lhe interrompa o programa de televisão, quiçá, o acto amoroso, com comunicados de última hora em que, qual émulo de Fidel, discursará durante quatro horas de cada vez, em tom de locutor soleníssimo, sobre o problema… o problema… o problema… bem, isso das lixeiras atómicas.


Não se reconhecerá também o povo português na luz que o ex-electricista Francisco Lopes lhe afirma vir do Nascente, mas que, afinal, vem - veio sempre - do Poente. Até porque utilizar um curioso como agente publicitário de uma empresa que afirma possuir os únicos e verdadeiros especialistas em iluminação, é, da parte desta, sinal de uma enorme falta de capacidade de gestão. Ou de simples falta de pessoal.


O povo português reconhecerá a Fernando Nobre empenho e tenacidade na procura de tratar da saúde aos habitantes do planeta e respeitá-lo-á por essa sua tão meritória intenção. Mas sabe também que o mundo não é tratável da mesma maneira que os seus habitantes, porque os habitantes são muitos, cada qual com a sua maleita, e, por isso, o mundo tem muitas maleitas ao mesmo tempo. Dizer que há um só remédio para tudo, porque é tudo resultante do mesmo vírus, mesmo com ar doutoral, cheira a miopia científica, fonte segura de muitos tropeções e trambolhões para qualquer mortal, quanto mais para um presidente.


Por fim, dificilmente pode vir a reconhecer-se em Defensor de Moura ou em José Manuel Coelho. Nenhum deles (em conjunto com Francisco Lopes, de quem não nos lembramos sequer de um curto-circuito que haja provocado) apresenta um álbum de fotografias com conteúdo suficientemente notório para ser mostrado às visitas. O nome do primeiro levanta, além disso, suspeitas de tendências divisionistas entre Norte e Sul, algo que é ainda reforçado pelas declarações que proferiu quanto à sua intenção de pugnar pela defesa dos animais. No que respeita ao segundo, quando surge parece sempre saltar de uma cartola e ninguém pensará em eleger um animal de palco para presidente. Nem, aliás, Defensor de Moura que o é também dos bichos, certamente o permitiria, criando o perigo da eclosão de uma guerra fratricida entre os portugueses. (...)


2. Pepita Leitão, signatária do manifesto que inaugura este blogue, acha por bem acrescentar ainda o seguinte:

MANIFESTO-DECLARAÇÃO

Esta não vai ser uma declaração política mas sim uma declaração de amor.

Ou mais exactamente: uma declaração de amor que também é uma declaração política. Para melhor dizer: programática.

Dela se extrai e sem dor uma grande amor ao País e ao Candidato que é a sua figura mais exemplar!

O nosso querido candidato Mendes tem tudo que o recomende:

1. Seriedade (nunca aldrabou um participante do Concurso que o tornou célebre, antes os ajuda com frases adequadas e afectuosas, que o mesmo é dizer que nunca defraudou os cidadãos telespectadores, o que contrasta fortemente com as pantominices repetidas dos políticos vulgares).

2. Bom-senso (tem um relacionamento cordial com os participantes, ao contrário dos vulgares políticos, quem tratam as pessoas aos coices ou com falinhas que depois se revelam conversa de chacha do piorio).

3. É sexy (o que em política, onde o aspecto conta e os políticos vulgares bem o percebem, é uma mais-valia. É uma figura no enfiamento do português rotundo e bem disposto, não é um pau de virar tripas como uns nem um orelhudo caricatural como outros. O cidadão, os homens e mulheres do povo, reconhecem-se nele. Mesmo vestido de bebé, como às vezes lhe sucede em cenas de teatro, não é ridículo, desperta ternura. Ponham o Alegre ou o Cavaco vestidinhos com babygrow e verão como as pessoas desatarão a rir!).

4. Tem um sorriso aberto (não ri aos solavancos como o bom do Nobre, nem sorri sepulcralmente como o Lopes, que até parece que está a enterrar o Lenine. E com o Alegre ninguém ri, embora em geral toda a gente ria com o Defensor).

5. É descontraído (não parece estar num funeral quando fala às massas. Comparem-no com o Cavaco e já estarão a ver o que quero dizer).

6. Todas as indumentárias lhe ficam bem. Comparem com o Lopes, cujos casacos parecem ter sido emprestados pelo Cunhal, bem como ostacatto dos discursos e a própria entonação filosófico-ideológica. O que revela que tem um espírito igual à aparência ou seja, de acordo com a psicologia, que é um homem público verdadeiro e sem hipocrisias ou desníveis ser-parecer.

7. E, por último, é o Mendes ele mesmo e não nenhum dos outros. E esta é a meu ver a sua grande vantagem!

Com amor patriótico! Viva, vivóóóó!

Pepita Leitão


2 comentários:

amsf disse...

O Coelho vai ser uma surpresa para certos políticos e comentadores!

Anónimo disse...

Eu diria mais, já está a ser.
Em matéria de pacovice armada aos cucos com molho de chico-espertismo será difícil fazer melhor.
Em França houve o Coluche, em Espanha o Pancho Formoles, em Itália o Tito Zanaga, todos de facto heterodoxos e com uma postura inteligente e crítica. Cá temos este Coelho em estilo peixeira de Algés, é de facto uma porra de mediocridade, mas é o que os amsf entendem, o nível é este. Porca miséria!
LC