02 janeiro 2011

Um cristão

Imagem retirada daqui

Muitos anos atrás, cruzei-me por duas ou três vezes com o padre Carreira das Neves e as poucas palavras que trocámos foram suficientes para nunca mais o esquecer, embora, na altura, não fizesse ideia de quem era. Só bastante tempo depois, através das suas intervenções na comunicação social e as notícias que tive dos congressos e debates públicos em que participou até hoje, me apercebi da dimensão da pessoa com quem falara ocasional e casualmente. Depois, o facto de vir a conhecer gente que com ele privava diariamente ou que o encontra com alguma frequência, permitiu-me completar um pouco mais a imagem de alguém com quem sinto uma enorme afinidade na atitude demonstrada face à vida.
Nas primeiras horas da madrugada de ontem, zappingando pelos canais de notícias, fiquei preso a uma sua entrevista recente a Manuel Luís Goucha, na TVI24, que estava a ser transmitida em repetição. Ouvi-o afirmar, de novo e sem hesitações, muitas das coisas que lhe têm acarretado umas quantas reacções negativas por parte da Igreja a que pertence bem como alguma hostilidade, mais ou menos refreada pelo facto de se tratar de um professor catedrático de grande prestígio (lembram-se do debate que teve com Saramago, a propósito do livro Caim, e de como Saramago cedeu nos seus argumentos, vendo-se obrigado a pedir desculpa?). Ouvi-o manifestar uma consciência humana que se capta a si própria nos fundamentos da apreensão da autêntica poesia, onde o humor é uma constante. Ouvi um homem em toda as suas fraquezas e em todas as suas forças. E suavizou-se-me um pouco o sono da noite.
Aqui deixo, assim, essa entrevista, acreditando em que, para lá das diferenças - religiosas e outras - que possa ter com ele, o mesmo se passe com quem a veja até ao fim.

3 comentários:

José Gonçalves Cravinho disse...

Eu sou um simples operário e já velhote (87anos),não tenho a capacidade de José Saramago,mas gostaria de discutir com êste Padre que àlém de ser teólogo professor catedrático.Gostaria de fazer-lhe uma imensidade de perguntas àcerca da Religião que
êle professa,mas na presença de testemunhas.

José Gonçalves Cravinho disse...

Como não me é possível discutir com êste Padre pessoalmente porque vivo na Holanda desde 1964,deixarei
aqui só estas perguntas:
-Se Deus é um Ser invisível e todos os seus predicados são em grau infinito como ensina a Igreja,êle não tem necessidade seja do que fôr.Então porque criou o Mundo e depois Adão e duma costela dêste fez a Eva?!Depois de os colocar no ParaísoTerreal, proibíu-os como um Ditador absoluto
de comerem o fruto da árvore da ciência do Bem e do Mal,o que Adão e Eva não cumpriram,tentados que foram pelo Diabo que assumiu a forma de serpente e tentou a Eva.
Ora aqui eu faço um reparo.Se Deus é o único Criador de tudo o que existe visível e invisível,e se é infinitamente perfeito,não pode cometer imperfeições.Então porque criou o Diabo e o Inferno?!E se Deus é infinitamente sábio,sabia de antemão que Adão e Eva não cumpririam a sua determinação.Ora só posso concluir que Deus é afinal
ditador,tirano,caprichoso,vingativo
defeitos êstes que são humanos e como tal só posso concluir que um Deus dêste quilate só pode ter sido criado pelo Homem à sua imagem e semelhança e a respectiva Religião conforme os seus interêsses.Foram judeus dissidentes na diáspora que influenciados pelo helenismo deram ao lendário judeu Jesus,o nome grego de Cristo e inventarm o cristianismo dizendo que Jesus Cristo era o filho de Javé/Jeová ou seja o Padre Eterno dos biblico-judaico-cristãos e que veio ao Mundo para sofrer e morrer remindo o pecado original,pecado êste que se estendeu a toda a humanidade e apaziguando assim a ira divina de seu Pai sendo imolado na cruz como o cordeiro de Deus(agnus dei).
Mas que Deus é êste assim tão mau/
tão cruel,tirano e sanguinário/
que se porta pior que um marau/
e mata o filho no Calvário?!

ablogando disse...

Caro José Gonçalves Cravinho:

Embora já pouco aqui venha, calhou de abrir a caixa de email uns quantos minutos após ter deixado o seu comentário.
Independentemente das diferenças de posição no plano do religioso que possam afastar-me do Pe. Carreira das Neves (e julgo não serem poucas), os argumentos que avança no seu comentário também não são, a meu ver, muito consistentes, uma vez que pressupõem uma interpretação literal do mito bíblico que a nenhum teólogo cristão lembra fazer desde, pelo menos, o final do século XVIII (cem anos antes do início da predominância cultural do pensamento científico, portanto)e que não encontrará em nenhum currículo de qualquer disciplina teológica de qualquer universidade católica. E aproveito para lhe lembrar que, em meados do século passado, o Pe. Teilhard de Chardin foi o autor de uma tentativa de conciliação entre o darwinismo e o cristianismo que mereceu não apenas o respeito da comunidade científica como o apreço de um escritor de Ficção Científica da dimensão de Clifford D. Simak, que a partir dela construiu o seu romance "Estação de Trânsito", editado em Portugal pela Livros do Brasil, na colecção Argonauta.
A interpretação do mito e do relato bíblico é muito mais complexa e exige um esforço muito maior, tanto ao nível dos dados históricos como dos que se referem à arqueologia e à filologia para que possa ser efectiva e válida. Sem esquecer o que diz respeito ao conhecimento de, pelo menos, os princípios básicos de outras religiões.