Há uma coisa que, para mim, não ficou clara, naquela "tourada" que pudemos "ouver" na Universidade de Columbia, com o presidente do Irão.
As declarações que este fez sobre a homossexualidade foram de morrer, de um misto de riso e de desgosto. E não é por o homem se dizer servo de Deus: o ateu Cunhal, numa das últimas entrevistas que deu à RTP, respondeu à pergunta: "O que pensa da homossexualidade?", com um:"É uma tristeza!", que provocou idêntica reacção, juntamente com um arrepio provocado pela ideia do que poderia ter sucedido a muita gente, que não só homossexuais, se o PCP houvesse chegado ao poder.
A minha estranheza refere-se ao facto de o reitor da Universidade iniciar a conferência com um ataque cerrado ao convidado, utilizando os piores (merecidos) termos que se lhe podiam aplicar - a que o mesmo respondeu à letra, como seria de esperar (e o ele é, claramente, dos que não esquecem...).
A universidade não é uma instituição com funções governamentais de qualquer tipo, não lhe foram atribuídas sequer tarefas diplomáticas. Convidou o homem porque quis, não era obrigada a isso, ninguém lhe encomendou o sermão nem ele era necessário e o reitor, se não concordava com o convite, poderia ter-se recusado a estar presente.
Faz sentido alguém convidar com a intenção declarada de o hostilizar? É moralmente aceitável tal atitude? É, ao menos, do bom-senso mais elementar fazê-lo? É útil em qualquer sentido? Não me parece. Só me parece lamentável.
E preocupante. Muito preocupante.
3 comentários:
As reportagens que passaram nas TV estavam truncadas; como é óbvio, os media extrairam do acontecimento aquilo que lhes interessava para excitar os espectadores - a missão dos media não é informar, é emocionar, não trabalham para a razão, trabalham para a emoção
Houve um canal que transmitiu um bocadinho mais e deu para perceber:
o reitor convidou o presidente do Irão exactamente para dar uma oportunidade de ele mostrar se é ou não o que se diz dele; e começou o seu discurso de apresentação dizendo que ele exibia os sinais típicos de um ditador etc - não disse que ele era, disse que ele parecia!
Esta diferença é fundamental. O reitor deu-lhe oportunidade de ele "limpar" a sua imagem. O que ele deve ter feito, daí a sua evidente boa disposição. Mas nada disso interessou aos media, evidentemente, só interessou a parte dos homossexuais. Se não fosse isso, a notícia nem tinha aparecido na TV. Quem sabia que o presidente do Irão andava pelos EUA?
Nem me admirava que a parte dos homosexuais tivesse sido introduzido pelos especialistas de markting para chamar a atenção dos media e evitar que esta visita fosse ignorada.
Os reporteres de TV, quando saem para uma reportagem, as instruções que levam é: tragam o horror, o escândalo, o sangue. Se não conseguem meter isto numa reportagem, seja qual for o assunto, ela não vale nada.
E a culpa não é deles, é dos espectadores, são os espectadores que o querem.
Os espectadores também são levados a isso pelos próprios media. Business is business... E o problema é mesmo esse: ver a informação como pouco mais do que um negócio. Mas toda a gente se escandalizaria se se dissesse o mesmo da escola. Aí fala-se em direito a ela, na medida em que o aprender (ainda) é reconhecido como algo especificamente humano, num plano diferente do de um animal, independentemente de poder ser paga.
Joaquim Simões, tem aí um ponto interessante: o objectivo da escola é formar, mas a sociedade tem de estar informada para funcionar. A quem cabe essa missão? Media. Mas não é possível impor aos media privados que o façam, era preciso dispor de um sistema de avaliação do grau de informação das pessoas e penalizar ou premiar os media por isso. Então, resta uma alternativa: os media de serviço publico.
Em que consiste o serviço publico? Informar com qualidade. O grau de informação das populações serve para medir a eficiência do serviço publico. Se os privados forem bons a informar, óptimo. Mas podem deixar de o ser de um momento para o outro. Apenas o Serviço Publico pode dar a garantia de uma informaçao de referência. Será que dá?
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