Este o título de um excelente desabafo que Nicolau Saião me enviou para nos temperar o fim-de-semana, com ilustração do próprio:
D.Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, não é um beato falso nem um desses curiosos espécimes de uma igreja pseudo-progressista que em geral efectuam uma mistura insulsa de conceitos colhidos nos antigos discursos de horas do consabido centro-americano insular e o misturam com parlengas que dizem apanhadas em S. Paulo.
Cidadão e antístene que ao contacto com as gentes reais adequou a sua lucidez, respeitando a hierarquia mas sem andar, como certos protagonistas pedantes e hipócritas, a fazer ademanes aos pontífices para mais à-vontade poderem ofender o Homem e o Filho do Homem, fala alto e claro e com enfoque acertado.
Não engrola conceitos de alta lucubração que, evidentemente, são apenas pó para inflar os olhos dos incautos nem, como aquele conceituado narrador de anedotas semi-pornográficas muito frequentador das Têvês, desce ao falejar pretensamente terra-a-terra que apenas mostra uma mentalidade e uma formação primária de "abade de aldeia".
Tenho para mim que este homem é um verdadeiro e convicto cristão, o que o separa de 80% dos que assim, profissionalmente, se afixam - sendo na verdade verdadeiros ateus, ou que se desconhecem ou ardilosamente camuflados.
Quando fala, fala serenamente. Não por parábolas - pois tem a humildade de não se querer émulo de Cristo como aquele pequeno hipócrita que, na rádio, tenta forçar a nossa admiração de inocência martelada. Fala como um verdadeiro sacerdote (sacerdos, o que guarda ou acautela o sagrado) que é essa ausência deles nas fileiras o maior falhanço da ICAR. (Daí o afastamento/indiferença de cada vez maior número de pessoas, pese à propaganda que afixam com denodo). Por isso o ouço sempre com gosto, não por - errada e orientadamente - o dizerem dantes "o bispo vermelho", que não era nem foi, mas o que buscava cuidar do seu rebanho à guisa do célebre bispo Miryel dos Miseráveis de Vítor Hugo.
Hoje ouvi-o falar numa entrevista dada à Rádio.
Palavras sensatas, realistas, verdadeiramente humanas. Fala como falava Albino Luciani - o Papa assassinado, et pour cause - com palavras de verdadeira mansuetude mas rectidão, de bom-senso ante as ruínas em que mergulharam o País. Chamando os bois pelos nomes, pois já Cristo nos ensinava que compreender o Mal não é colaborar com o Mal cedendo à chantagem satânica de se exercer um perdão que de facto o não é, mas sim cumplicidade.
Vem-me à memória, agora, um pretérito cenário histórico. Em contraponto?
Entrevistado por James Readfield, a uma pergunta do jornalista americano que o questionara se, por hipótese, perdessem a guerra o que fariam no dia seguinte, o marechal Goering respondeu de pronto: "Começaremos de imediato a estimular a compaixão no espírito dos nossos adversários!". (cf. H.Chevallez e J. de Launay).
A esta luz percebe-se melhor o falso conceito de perdão que certa gente perfilha para melhor tripudiar sobre as nações e os indivíduos inermes e de boa-fé.
E, de igual modo, também se entende melhor a "solidariedade dos crápulas", como dizia Silone, que nos últimos dias determinados cavalheiros têm trazido incessantemente à colação... eles lá sabem porquê.
2 comentários:
O xis marca o lugar na tromba da cambada e ainda é dizer pouco. O falso conceito de perdão é o estilo deles porque são iguais aos outros, aproveitam o roubo que os outros fazem e eles aceitam na caixa das esmolas.
Carlos M.S.
Carlos M.S.:
Pois...
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