16 fevereiro 2011

Depois da música e para começar...



... um e-mail de Nicolau Saião:

Se eu tivesse coragem… ou se fosse malcriado

De vez em quando, gostava de ser malcriado. Tão malcriado, ou tão inconsciente, como certos homens públicos que são do melhor que há neste país onde o bom sol, o bom ar e os bons dirigentes nos tornam a todos felizes e, a quase todos, abonados por um bem-estar que o nosso governo tem protegido vigorosamente.

Também gostava de ter coragem. Mas não tenho. De vez em quando gostava de ser uma espécie de…mas não vou dizer o nome desse cavalheiro que respeito e, até, estimo, por ter tanto músculo interior e aprumo cidadão.

Se a tivesse…!

Puxaria dela e, de frente, vigorosa e frontalmente, chamaria palhaços, malandros, cínicos e velhacos a determinados homens públicos que de vez em quando ouço na comunicação social a falarem com um cinismo que, a meu ver, não está isento de senso de humor…algo sádico.

Mas adiante.

Há bocado, honni soit qui mal y pense, ouvi o sr. governador do Banco de Portugal referir, decerto com bom conhecimento de causa, numa entrevista, que “já estávamos na recessão económica”, essa que o competente sr. primeiro-ministro tem tentado espingardear com denodo.

E a seguir, mas não ao mesmo tempo, ouvi o sr. ministro Santos Silva (aquele que alguma imprensa e não só, a meu ver com algum desrespeito que não partilho, tem apelidado de “o malhador”, devido à característica intemerata de ser do seu agrado escaqueirar “direitistas” e derivados, se lhe passam ao alcance da mão musculada) que nisso de recessão os outros ainda estão pior e que Portugal é a nação mais antiga da Europa (ou uma das mais antigas), tendo tido muitas vezes o perigo a espreitá-la (expressão minha) e tendo sempre saído airosamente da gangada (expressão minha, que a expressão dele era mais elegante).

Que dizer? Que festejo e saúdo a coragem do (desculpe/m a sem cerimónia) nosso “malhador” (isto é dito com carinho).

É bom que numa miséria destas em que se está a mergulhar, quando o Estado cai em nossa volta e a República é uma espécie de espirra-canivetes, haja assim gente de coragem, de aprumo e de facilidade de argumentação – que não se rende e segue impávida e serena.

Como eu gostava de ser assim corajoso! (Mas não sou, se me indigno só sei clamar baixinho, pianinho, medrosamente, contra os que detesto ou mesmo desprezo).

Pobre de mim, na verdade, intelectual dum raio (como nos meus tempos da tropa diziam os saudosos sorjas)!

ns

1 comentário:

Anónimo disse...

Perante este artigo de fina ironia, o malhador devia pintar a cara de preto, ou de rosa que era mais apropriado.
Acho eu embora que para estes o sarcasmo bruto é o melhor e é o que merecem.

M.Loff