Ouvi, há poucos dias, uma notícia segundo a qual, dos 18 radares que fazem a vigilância da costa portuguesa, apenas 5 (!), desde há um ano (!) se encontram em funcionamento, cobrindo as zonas do Alentejo e do Algarve. Até Agosto, ou seja, até daqui a mais seis meses (!), altura em que está prevista a instalação de novos radares, mais sofisticados, que permitirão recolher dados de maior precisão, inclusive quanto ao número de passageiros que se encontram a bordo de qualquer embarcação ou navio, a zona costeira continuará a ser vigiada através de… binóculos!
Será preciso referir o número e a dimensão de abusos e perigos de que qualquer país fica à mercê quando as suas águas territoriais não são vigiadas? Será difícil prever a que se sujeita um país com uma das maiores áreas costeiras da Europa, ainda por cima atlânticas, sem mais do que binóculos para as vigiar durante um ano e meio (!) ? E se, em tempo normal, a situação seria em absoluto inaceitável, quanto o não será exponencialmente num período de enorme instabilidade e conflitualidade políticas e sociais, com tendência a agravamento, não longe das suas fronteiras? Que consequências desastrosas para a população não poderão resultar de uma tal incompetência e incúria criminosas do seu governo? O imediato pedido de demissão e a sujeição à indignidade e à desonra nacionais seria o mínimo a que um primeiro-ministro com uma réstia de vergonha se sentiria obrigado numa situação como esta. E, com ele, o “presidente de todos os portugueses”.
No passado 5 de Outubro, a República comemorou 100 anos. Diria antes que os actuais figurões da desgraçada política que - desde há, pelo menos, quatro séculos - em Portugal se tem mostrado num permanente cortejo grotesco de incompetência ditatorial e de ditadores míopes, aproveitaram a festarola a que o centenário do regime obrigava para, maquilhando-o com foguetório, se firmarem a si próprios como símbolos válidos de uma nação da qual, efectivamente, pela prática não comungam nem representam, por mais que votos em que se entrincheirem.
E isso levou-me, em conjunto com o que escrevi anteriormente, a recordar-me do único regicídio que mancha a História de Portugal. Porque foi precisamente D. Carlos o rei que, após os Descobrimentos, maior atenção tomou ao mar, numa perspectiva agora científica, ligada à biologia e à exploração marinha, mas também de preservação e cuidado da zona marítima privilegiada do país de que, por nascimento, o destino o tornara responsável. Um rei que, além de um notável trabalho diplomático, menorizado, denegrido e distorcido por republicanos da mesma cepa “orgulhosamente” reclamada pelos seus actuais sucessores, se preocupou ainda com a modernização agrícola e planeou a electrificação da iluminação pública de Lisboa - coisa que lhe valeu, aliás, o aumento da impopularidade, na medida em que, para o povo, devidamente envenenado pela demagogia do Partido Republicano, se tratava de um gasto desnecessário (!). Um rei que, em 1892, escrevia isto, que nenhum “republicano” escreveu até hoje (imagem obtida aqui):
Um rei que cometeu erros políticos e que pagou por isso como, nem antes nem depois dele, mais nenhum outro pagou, mesmo aqueles que fizeram de Portugal a sua fonte de rendimento ou a sua coutada pessoal. Um rei que, face ao que hoje observamos, se apresenta, no entanto, como um exemplo de probidade e de inteligência. Um rei que, ao contrário de Cavaco Silva, não ajudou a destruir, enquanto primeiro-ministro, a frota portuguesa, para, anos depois, perto e durante a campanha em que foi reeleito presidente, apontar profeticamente o mar como essencial para a recuperação económica e a identidade nacional.
Elogio de D. Carlos? Apologia do sistema monárquico? Nem uma coisa nem outra. Simples constatação e comparação valorativa de factos, de discursos e de actos para melhor se poder avaliar a situação em que nos encontramos e a gente com quem lidamos. E uma enorme, enorme apreensão pelo futuro que tudo isto nos leva a esperar.
1 comentário:
Concordo a 100 por cento. Esta república é choldra e, se eu não fõsse apartidário seria monárquico e não por gostar dos reis e digo, sim, mas sim por ver que têm nos modernos mais honradez.
Viva Portugal
Afonso P. Serra
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