14 outubro 2010

As teias da estratégia

No Diário Digital

Presidente do Irão visitou fronteira com Israel

O presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, esteve esta quinta-feira face ao seu arqui-inimigo Israel, dizendo a milhares de apoiantes do Hezbollah, numa cidade fronteiriça libanesa, que estava orgulhoso da sua luta, enquanto helicópteros israelitas voavam nas imediações.

Os EUA e Israel consideraram a visita de Ahmadinejad à fronteira israelo-libanesa uma provocação que mina a soberania libanesa.

O Irão, cujos laços com o Hezbollah têm cerca de 30 anos, financia o grupo xiita em milhões de dólares por ano e é suspeito de fornecer muito do seu arsenal do movimento radical.

O Hezbollah goza de um apoio generalizado entre os xiitas e gere virtualmente um Estado-dentro-do-Estado nas áreas xiitas do Líbano.

"Vocês provaram que a vossa resistência, a vossa paciência, a vossa firmeza, eram maiores do que todos os carros de combate e aviões do inimigo", disse Ahmadinejad num comício em Bint Jbeil, situada a cerca de quatro quilómetros da fronteira.

"O povo do Irão permanecerá ao vosso lado, bem como todo o povo da região", acrescentou.

A cidade de Bint Jbeil tem um significado especial no Líbano, tanto por ter sido uma das áreas mais atingidas na guerra de 2006 entre Israel e o Hezbollah, como por o Irão ter financiado significativamente a sua reconstrução, como ainda por ter sido nela que o líder do Hezbollah fez um discurso de vitória, depois da retirada israelita do sul do Líbano, em 2000, ao fim de duas décadas.

No seu discurso em Bint Jbeil, o líder dos xiitas disse que Israel era "mais fraco do que uma teia de aranha" -- uma frase que ainda hoje adorna uma parede do estádio, a par de fotografias de soldados israelitas a chorar.

Bint Jbeil é considerada "a capital da resistência", porque foi um centro da acção da guerrilha do Hezbollah contra Israel durante a ocupação.

O líder iraniano também visitou a cidade de Qana, onde um ataque aéreo israelita, em 2006, matou dezenas de habitantes, depois de já em 1996 ter aí morto 100 civis libaneses.

A visita de Ahmadinejad sublinha o enfraquecimento das posições pró-ocidentais no Líbano.

De forma mais geral, sugere mesmo que a concorrência pela influência sobre o Líbano pode estar a ser ganha pelo Irão persa, e o seu aliado Síria, e perdida pelos EUA e os seus aliados árabes Egipto e Arábia Saudita.

A coligação governamental de partidos apoiados pelo Ocidente já avisou que Ahmadinejad quer transformar o Líbano numa "base iraniana no Mediterrâneo".

O porta-voz do governo israelita, Mark Regev, afirmou que "a dominação iraniana do Líbano, através do Hezbollah, destruiu qualquer hipótese de paz, transformou o Líbano num satélite iraniano e fez do Líbano um centro importante para o terror e a instabilidade regional".

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