No Blasfémias
No mesmo dia 2 de Maio em que a imprensa dava grande destaque às agressões de que Vital Moreira fora alvo na manifestação convocada pela CGTP sabia-se que um dos sindicatos filiados na mesma central sindical, o Sinttav, despedira a sua única funcionária da limpeza. O argumento invocado foi a extinção do posto de trabalho. Acontece que na delegação do Porto do Sinttav, onde trabalhava a funcionária despedida, ela era a única a exercer essa função, logo rapidamente se percebe que algo não bate certo nesta história. E, se recuarmos alguns dias, ainda os cravos estavam vermelhos nas lapelas daqueles que os usaram neste Abril, quando se soube que três dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava), que também são militantes do PCP, estavam a ser alvo de inquéritos internos instaurados pelo partido, por não terem apoiado a lista B nas eleições do Sitava. Destes casos infelizmente pouco se fala, pois, ao contrário do que sucedeu com Vital Moreira, o repórter não só nunca está lá, como raramente lá procura estar. Os sindicatos são noticiados regra geral com paternalismo e apenas quando os amigos de ontem se tornam nos ministros de hoje é que o verniz estala, como aconteceu quando esteGoverno revelou quanto custavam os delegados sindicais nos CTT ou no Ministério da Educação. Fora isso, as notícias sobre os sindicatos são apenas uma reprodução dos seus comunicados. E isto é válido para o despedimento da mulher da esfregona em 2009 ou dos jornalistas em 1990. Para os anais da dificuldade que os jornalistas portugueses têm em noticiar o que acontece nesse universo que vai do PCP aos sindicatos (e agora também às franjas do BE, mas isso não é o assunto desta crónica) ficará sempre o caso do fecho do jornal O Diário, afecto ao PCP, em Junho de 1990. Tal como acontece a muitas empresas que hoje fecham as suas portas, também O Diário recebera subsídios vários, mas nem assim se impediu o fecho. Ao reler as páginas de 1990 percebe-se o embaraço gerado pelo caso de O Diário, tanto mais que os despedimentos foram feitos ao abrigo duma legislação que o PCP e os sindicatos que lhe eram afectos contestavam com veemência. Em 2009, quando se vê, por exemplo, gente a salivar com os sequestros de gestores efectuados pelos sindicatos franceses ou se tenta desculpar a agressão a Vital Moreira com a crise, convirá que se perceba que os sindicatos, tal como acontece com os representantes doutros interesses, precisam de ser noticiados sem as habituais condescendências. Tanto mais que os sindicatos, tal como a democracia, podem ser péssimos, mas ainda não se arranjou nada melhor para os substituir.
(via Fiel Inimigo)
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