“Nós concordámos com a exposição retrospectiva dos seus trabalhos, mas quando o grupo Surrend anunciou que tinha um trabalho inédito retratando a família real dinamarquesa numa cena pornográfica, isso foi contra o acordo”, acrescentou o responsável pelo museu.
Para os artistas, o cancelamento da exposição é “um caso claro de censura”. Egesborg, co-fundador do grupo Surrend, declarou à AFP que “não existe liberdade de expressão, excepto quando se trata de ridicularizar uma minoria muçulmana”, relembrando o caso do cartoon de Maomé que em 2005 foi publicado num jornal dinamarquês e criou uma forte polémica à escala mundial em que se debateram os limites da liberdade de expressão envolvendo a comunidade muçulmana - o Corão condena a idolatria e por isso são rejeitadas representações pictóricas do profeta Maomé.
Por seu turno, Ravn negou a acusação de censura: “Da mesma forma que um editor decide o que é publicado num jornal, o responsável do museu tem a última palavra em relação aos trabalhos de uma exposição. Eles são livres de publicar o trabalho onde quiserem”.
Esta não é a primeira vez que o colectivo Surrend satiriza a família real: o grupo já exibiu cartazes da família real decapitada ao lado de uma guilhotina.»
Recordemos agora, para melhor compreensão da situação e da argumentação de ambas as partes, o seguinte:
- Que, na Dinamarca, de cada vez que se regista o falecimento de um rei ou rainha, o Parlamento deverá pronunciar-se sobre a continuidade do sistema monárquico ou a sua substituição pelo sistema republicano;
- Que, pelo menos nos séculos XX e XXI, a casa real dinamarquesa tem constituído um exemplo quanto à defesa da democracia, tendo ficado para a História a posição que tomou face à invasão nazi e à defesa dos judeus perseguidos;
- Que a família real dinamarquesa tem sido igualmente uma referência quanto à sensatez, tanto no que diz respeito à sua vida pública como à institucional.
Posto isto, colocar em pé de igualdade as caricaturas de Westergaard sobre a relação entre terrorismo e islamismo com as do grupo Surrend, achincalhando a família real da Dinamarca, é o mesmo que pôr em pé de igualdade o discurso de alguém que produz um conjunto de considerações e de alertas sobre um perigo iminente e o de um grupelho de rapazolas que decidem, para se divertirem, ir para a frente da casa de alguém, atirar-lhes pedras à janela e gritarem infantilidades tolas sobre a sua vida privada. E, pior ainda, confundir isto com liberdade de expressão. Artística, ainda por cima.
Porque aceitar confundir arte e liberdade de expressão com a mediocridade oportunista mais reles não é um acidente. É um sintoma de uma ilucidez profunda e letal que tende, cada vez mais, a forçar-nos a regressar à barbárie e à mesmo à auto-destruição. É o sintoma maior daquela degradação de alma dos versos da Mensagem, de Fernando Pessoa (de quem está esquecido, aliás, um extraordinário texto sobre este tema): "Ninguém sabe que coisa quer/ninguém conhece que alma tem/nem o que é mal nem o que é bem/(...)".
Ao que eu diria, como ele diz no final do poema: "É a Hora!"
1 comentário:
Absolutamente de acordo com o autor deste Blog. Confundir crítica ainda que dura a um GRUPO FASCISTA, tapado com a capa de religioso, como é o activismo fanático muçulmano, com crítica desajustada a uma entidade de prática democrática, mesmo que duma condição a que não aderimos (monarquia) é relativismo ético, habilidade manhosa e, na verdade, desonestidade intelectual.
É o mesmo que colocar no mesmo plano de alvo intelectual um indivíduo que num café rebenta com uma dúzia de comensais indiferenciados com outro que, no mesmo café, distribui prospectos propagandeando a instituição real.
Maomé não foi caricaturado/criticado por ter uma determinada opção, mas sim por ser o sustentáculo formal e filosófico de assassinos bombistas. Recorde-se, ainda e sempre, Salman Rushdie: "O problema, meus caros ocidentais, não está no terrorismo mas no Corão em si, pois que num seu articulado manda onverter pela força quem não se converter voluntariamente".
Ou seja, o Islamismo foi concebido como uma "força de combate", o seu fim último é a instauração do Califado universal.
É esta pois a sua essência e é disto que urge nos defendamos. Tudo o resto é retórica, no fundo servindo os propósitos, a médio ou longo prazo, dos seus príncipes.
Paulo Burmester
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