Na PÚBLICA do passado dia 21 de Setembro, saiu uma entrevista com o poeta brasileiro Ferreira Gullar, a propósito da atribuição que lhe foi feita do Prémio Camões, da qual transcrevo o excerto seguinte, referente às eleições brasileiras (para ler a entrevista na íntegra, clicar aqui):
(...)
Como olha para o presente?
Eu me sinto feliz por ter batalhado todos estes anos, eu, meus companheiros, criámos tanta coisa, procurámos dar o melhor de nós no campo literário, cultural, político. A vida é assim mesmo, agora é outra época. Pelo menos não tem mais a ditadura, que foi um período sinistro, de violência, de censura, de tortura, desaparecimento de pessoas. Pelo menos estamos numa democracia e isso já é importante.
Mas como vê o Brasil hoje? O Brasil está na capa de todas as revistas.
Embora o Lula [Presidente Lula da Silva, cujo mandato termina em Outubro] diga que é o responsável por tudo e que tudo de mau foi o outro [Fernando Henrique Cardoso, o anterior Presidente]... Por que é que o Brasil cresceu menos do que a Colômbia, Argentina, Bolívia, Peru, Chile, Venezuela? Só cresceu mais do que o Haiti. Por culpa do Fernando Henrique, disseram. Foi há sete anos. Quando se diz que o Brasil agora está [bem] graças ao Lula... mas toda a política económica e social do Lula é do Fernando Henrique. A lei da responsabilidade fiscal, que acabou com a inflação no Brasil, que [Lula] combateu, mudou a vida económica do Brasil. Eles votaram contra no Senado, votaram contra na Câmara e entraram com uma acção no Supremo para anular a lei, que é a base do Governo de Lula. A política de juros do Banco Central, ele foi contra. Quando o Fernando Henrique criou a Bolsa Alimentação, para dar alimentos a famílias de pessoas desempregadas, [Lula] foi na televisão dizer que estavam transformando o trabalhador em mendigo, aí fez a bolsa família, que é a bolsa alimentação ampliada. O que é que ele fez de novo? Nada. A sorte que ele deu é que tomou posse em 2003 e neste ano a economia mundial passou a crescer velozmente, depois de inúmeras crises. Então, ele, que tinha combatido todas essas medidas, adoptou todas e diz agora que são dele.
E nestas eleições...
Agora inventou a Dilma [Rousseff, candidata à presidência], que é uma marionete que ele diz que é a mãe do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], que fez isto, fez aquilo... Não fez nada, ela era chefe da Casa Civil, que é um órgão de assessoria da Presidência da República. Se você manda os projectos para a Presidência, a Casa Civil examina se está de acordo com a lei, é um órgão de assessoria técnica. É isso que ela foi, ela não fez nada. E ele quer atribuir a ela tudo o que o Governo fez. Até o trem de alta velocidade foi ela que inventou. É ridículo.
O que é grave não é essa mentirada toda. O que é grave é que o Lula a primeira coisa que fez foi anular uma portaria do Fernando Henrique que dizia: para cargos técnicos, tem que nomear técnicos. Para evitar que os políticos dos partidos que estão apoiando o Governo queiram os cargos importantes do Governo, que são técnicos, e você bota um cara que não entende nada. Ele revogou essa lei para encher os cargos técnicos de gente dos sindicatos, gente da CUT [Central Única dos Trabalhadores], dos partidos aliados, do PT [Partido dos Trabalhadores]. Agora, isto tem sete anos. Se entra a Dilma nós vamos ter mais quatro anos, e depois mais... pode ser um desastre para o país.
Está apreensivo.
Todas as despesas que o Lula está fazendo vão-se reflectir no Governo que vem aí. Ele só faz comício. Ele não administra o país. O Lula não entende de nada, ele nunca leu um livro. Só faz discurso, desde que ele assumiu o Governo até hoje, ele está sempre num palanque. Eu fiz uma vez uma anotação dos dias que ele passou em Brasília, no ano passado, em seis meses ele tinha passado em Brasília seis dias de facto trabalhando, o resto é sábado e domingo e viagem. Quem governa o país é a assessoria técnica dele, ele não entende nada. Ele só pensa o seguinte: isso vai dar voto ou não? Isso vai dar popularidade ou não? É uma mentirada permanente, uma demagogia sem fim. Eu vejo com apreensão o que pode acontecer. O dinheiro público está usado na campanha eleitoral de uma maneira como nunca houve no país, de uma maneira escandalosa. A Dilma não entende das coisas, não sei o que ela vai fazer na Presidência da República, ela é autoritária, pode ocorrer que ela resolva tomar o freio nos dentes e fazer tudo por conta dela, e eu não sei o que vai acontecer.
(...)
5 comentários:
Caro Joaquim Simões, ofereço a vós e vossos leitores algumas modestas correções, assim, de "rajada":
1. A ditadura brasileira matou menos de 500 pessoas, conforme os dados das Ongs dos familiares dos desaparecidos, portanto, dados oficiais. Note-se, então, a proporcionalidade, por ex., com Cuba!
2. No Brasil, ultimamente, mata-se anualmente 50.000 pessoas, a maioria homens entre 16 e 24 anos, em sequer inquérito policial, em plena democracia, pois não?
3. Note-se a indigência verbal! Meu Deus! Levaremos gerações para, minimamente, recuperar o nível intelectual geral de 1950. Eu tentei, fui professora na década passada. Mas, eu apresentava a mesma deficiência mental apresentada por esse poeta, agora. Eu precisei espantar a preguiça e estudar os clássicos de sempre. Creio-me num bom caminho.
COM O AVAL DE LULA
Neste momento na Coreia do Norte, no paraíso democrático do Bernardino do PC, que sem o menor pudor descreveu aquele país-campo de concentração-caserna como uma democracia popular, uma família é integralmente presa se um dos seus membros se atreve a ser contra o regime. Pessoas são fusiladas sem julgamento, não por generais mas por simples cabos sem controle, ou antes, com direito de matar. Gente há que sobrevive por COLHER ERVAS DOS PRADOS. E não sou eu, evidente membro da CIA que o digo, veja-se a revista Sábado desta semana, a qual transporta uma reportagem sobre esse país de desgraçados controlados por uma dinastia fascista vermelha.
Ora, esse país teve o beneplácito de Lula, que deu aval ao regime. Assim como ao Irão onde as mulheres são lapidadas e os homens obrigados a usar barba sob pena de degolação. O mesmo Lula que deu azo ao mensalão, apesar de ter sabido por-se de fora.
O mesmo que, com o pretexto que é do povo, é um Chavez de pacotilha, um Fidel de imitação. O que se prepara para controlar a enxudiosa Dilma.E enxovalha e ameaça impressamente quem não quiser o seu "progressismo".
Um tretas e um hipócrita. E um perigo para a América do Sul e, afinal, o mundo, pela escora que dá a verdadeiros bandidos políticos.
Trindade Remuacho
Cara Nausícaa:
Devo dizer-lhe que não gosto nem dos poemas de Ferreira Gullar nem das perspectivas políticas globais que perfilhou e perfilha.
Dos poemas, porque me dizem pouco, humana, filosófica e esteticamente; das perspectivas políticas, porque me parecem pouco lúcidas.
Achei, todavia, oportuno transcrever esta parte da entrevista, uma vez que também ele se mostra muito crítico em relação a alguém que se situaria numa área ideológica afim, ao mesmo tempo que elogia quem, como Fernando Henrique Cardoso, lhe deveria, à partida, merecer-lhe menor apreço do que aquele que demonstra.
Trindade Remuacho:
Pois.
Tais opiniões vindas de um petaço PAULISTA não espanta.
Ele representa a visão comum dos larápios nacionais de extrema-direita.
Mas eu o defenderia até a morte, pela sua liberdade de pensar diferente.
Camilo Prado.
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