18 outubro 2010

Uma magistral parelha de coices



Semanada

Ao mesmo tempo que em Fátima se celebrava a peregrinação aniversaria, a última do calendário, ocorria um estranho fenómeno em Lisboa com uma peregrinação à rua Buenos Aires, ao que aprece nasceu por lá um deus menino e desde ricos reis magos a ministros do tipo Barrabrás lá foram implorar pela sua intercepção divina. Esta peregrinação espontânea até ganhou dimensão internacional com Durão Barroso a implorar e a direita europeia a reunir-se no Funchal para ouvir a palavra divina. Mas se em Fátima já não há segredos, nas Buenos Aires o segredo do novo senhor dos Passos está guardado a sete chaves e nem mesmo os cardeais mais próximos do líder do PSD o conhecem. Resta agora esperar para ver como termina esta liturgia, se numa explosão de fé no Passos Coelho ou, como sucede em Fátima, com os mais fiéis a carregar o andor do Pedro Passos Coelho ao mesmo tempo que os fieis se despendem dele acenando-lhe com lenços brancos.

E enquanto uns peregrinavam em direcção à Buenos Aires o ministro das Finanças reunia os jornalistas para lhes dar a conhecer um orçamento apresentado como se fosse a palavra do senhor, algo decidido por uma entidade divina que deve ser aceite por todos sob pena de os portugueses irem de TGV para o inferno do FMI. A palavra orçamental é de tal forma inquestionável que até fazia sentido que em vez de uma pen o ministro das Finanças tivesse entregue a Jaime Gama um contentor cheio de tábuas de eucalipto com a lei do senhor inscrita a fogo. Para completar o cenário litúrgico o ministro das Finanças ainda respondeu a uma jornalista fazendo votos de pobreza, afirmando-se disponível para abdicar de todas as riquezas assumindo o estatuto de franciscano. Eufóricos ficaram os seus acólitos, os directores financeiros, amigos que nomeou com o estatuto de directores-gerais em todos os ministérios para assegurar que a sua palavra era ouvida pelo governo.

Depois de se ter remetido ao isolamento de eremita Manuel Alegre reapareceu para denunciar que quando Cavaco Silva diz “venham a mim as crianças” não passa tudo de uma encenação, os meninos são arrebanhados nas escolas e levados ao falso santo com bandeirinhas de Portugal. Cavaco não se incomodou muito com o reaparecimento de Alegre e continuou a pregar a concórdia partidária, nada dizendo se volta a concorrer ao altar do poder ou se prefere continuar a marinar os candidatos a santos.

Enfim, uma semana em que os portugueses ficaram a saber que o ministro das Finanças tem princípios austeros mas que a miséria franciscana ficou reservada para os outros. Uma semana em que o portugueses ficaram a saber que essa miséria franciscano vai muito para além dos bens materiais, já está presente na cultura política, com candidatos presidenciais a disputar criancinhas e líderes políticos e governamentais a receberem banqueiros como se os votos dos cidadãos fossem mero lixo.


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Demita-se senhor ministro das Finanças

Teixeira dos Santos deve estar muito grato aos mercados, graças aos malditos especuladores pode tentar iludir os portugueses fazendo-lhes crer que governou exemplarmente as finanças públicas durante seis anos e agora se não fosse ele a apresentar o “orçamento mais importante dos últimos 25 anos” os portugueses veriam o seu país entregue aos cuidados paliativos do FMI. Portanto, Teixeira dos Santos não é responsável, transformou-se em salvador, um salvador a que quem estiver interessado em deixar o orçamento pode telefonar-lhe das 0 às 24h.

A culpa não é dos que pedem dinheiro, que não controlam as despesas e são obrigados a empenhar-se cada vez mais, a culpa é dos que emprestam o dinheiro e não deviam cuidar dos seus interesses emprestando-o a um país que caminha para a bancarrota. Foi culpa dos mercados o descontrolo intencional da despesa durante 2009? Não me parece.

Se um país está à beira da bancarrota e o ministro das Finanças está no cargo não se pode aceitar que em vez de ser avaliado ainda se arme em fanfarrão e venha dizer que fez uma grande coisa e deve ser tratado com a reverência merecida a um herói. Se eu roubar um papo-seco no Pingo Doce ou no Lidl corro um sério risco de ir a julgamento e um ministro que conduz as finanças públicas a um ponto em que se tira uma parte substancial do rendimento dos portugueses ainda tem a distinta lata de falar de cima para baixo?

Os portugueses estão a pagar a ineficácia da máquina fiscal gerida pelo ministro, estão a pagar o excesso de despesa que os famosos controladores financeiros deveriam ter controlado, estão a pagar a despesa resultante das decisões do ministro das Finanças em relação ao BPN. É verdade que também pagamos os submarinos do Portas mas as finanças estão demasiado no fundo para que tudo se explique com submergíveis. Há um senhor que deve ser julgado antes de qualquer outro, é Teixeira dos Santos, ministro das Finanças. É verdade que os especuladores fizeram com que os juros da dívida subissem, é verdade que a actuação de Pedro Passos Coelho, mas antes de condenar um e julgar o outro é Teixeira dos Santos que deve ir a julgamento e em democracia esse julgamento.

Teixeira dos Santos falhou todas as previsões, nomeou chefias inúteis só para empregar amigos como controladores financeiros, deu sinais errados aos portugueses dizendo-lhes que a despesa estava sob controlo, mentiu sistematicamente sobre a real situação financeira do país. Teixeira dos Santos é o responsável pela uma das situações financeiras mais difíceis do país desde o princípio do século vinte, mas não teve que enfrentar qualquer revolução ou guerra, governou as contas em democracia, com Portugal na EU e com maioria absoluta durante mais de quatro anos, não tem desculpas.

Nas democracias os cortes salariais ou nos direitos dos cidadãos são decididos por consenso e em resultado do debate parlamentar, são conseguidos com contrapartidas negociais para os que são penalizados, são feitos com objectivos de progresso. Não é normal que em democracia um ministro decida a quem tirar 15% do rendimento sem que a vítima se possa pronunciar e em consequência da sua própria incompetência.

Se eu fosse ministro das Finanças e fizesse o que Teixeira dos Santos fez ao país e aos portugueses pediria humildemente desculpa aos meus concidadãos pelos prejuízo que a minha incompetência lhes provocou e apresentaria o pedido de demissão.

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