… à rasca mesmo, os jovens não estão. Se quiser, um jovem, desde que não tenha limitações, físicas ou outras, pode procurar, aceitar ou criar uma ocupação profissional no país ou no estrangeiro, na Europa ou em qualquer outro continente. Afinal, os que lançaram as bases que possibilitaram fazer dos EUA o que hoje são, foram os operários especializados que, nos finais do século XIX, para lá emigraram, em consequência do desemprego e das miseráveis condições de trabalho que vigoravam na Europa. As antigas colónias europeias tornaram-se, por essa altura e até à década de 30 do século XX, a válvula de escape de uma situação insustentável, agravada pela I Guerra Mundial, com os consequentes benefícios para o desenvolvimento dessas áreas do globo e para a prosperidade e bem-estar económico desses emigrantes.
Não será isso o que a maioria dos jovens portugueses desejaria? Paciência, é o que, de momento, se afigura mais viável, com maior ou menor gosto ou desgosto de quem emigre. A mim, que, muitos anos atrás, me vi impedido, a contragosto, de sair do Velho Continente devido a condicionalismos insolúveis, o argumento do “direito a ficar na ‘minha’ terra” não diz muito, embora não refute a sua validade a quem o invoca. Sem que, porém, deixe de estranhar (se de estranhar verdadeiramente se trata…) ouvi-lo predominantemente da boca de quem, afirmando-se internacionalista e cidadão do mundo, a enche com discursos, mais ou menos veementes ou mesmo inflamados, sobre a necessidade de auxílio ao que designa por Terceiro Mundo, em sua opinião infamemente ignorado e explorado pelo Ocidente, burguês, arrogante e etnocêntrico.
À rasca, à rasca mesmo, estão, isso sim, todos aqueles que, com mais de 45 anos, se vêem desempregados. Tanto os que não possuem qualificações profissionais específicas que lhes acresçam as possibilidades de conseguir uma colocação e se desiludem quando procuram obtê-la através dessa burla para cidadãos incautos a que o ME chamou Novas Oportunidades, como os que, possuindo-as, se deparam com a concorrência de quem, mais jovem e com menos compromissos, aceita iguais funções por menor salário - e, com eles, os que deles dependem, jovens à rasca incluídos.
À rasca, à rasca mesmo, estão, isso sim, todos aqueles que, reformados com pensões indignas e sem mais rendimentos, deixam de tomar os medicamentos indispensáveis para a sua sobrevivência ou, em opção, de comer o suficiente, agora brindados com o congelamento dessas pensões durante os próximos três anos. E que não dispõem de qualquer sistema de apoio ou, pelo menos, de um apoio real, eficaz, nem têm possibilidade de contratar quem lho proporcione, se sozinhos ou acamados - há demasiados, num raio de apenas 300m do sítio onde vivo.
À rasca, à rasca mesmo, estão, isso sim, os cidadãos com deficiências mais ou menos profundas, espalhados, em grande número, pelo país inteiro, em aldeias isoladas ou em pequenas vilas; vegetando desumanamente sem maior apoio ou convivência do que a família ou a televisão; cada vez mais afastados do ensino, devido às dificuldades criadas pelas medidas economicistas das sucessivas ministras da “educação”; longe de videotecas e bibliotecas que alarguem ou sequer dêem início a uma abertura dos seus horizontes culturais; sem recursos económicos para adquirir os instrumentos técnicos indispensáveis a uma existência menos dura e difícil, quando não francamente penosa. Vítimas maiores da indigência em que vive a generalidade do país, enquanto são vítimas pouco mais que indefesas.
Porque todos eles, ao contrário dos jovens licenciados sem emprego, nem sequer podem sonhar com a emigração. Porque, fechada a última porta, se encontram encurralados, sem remédio, pelo país que lhes suga a vida até esta se mudar, indisfarçavelmente, na expressão e na tortura de um inferno chamado absurdo, feito de decadência e degradação com a morte por horizonte.
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